Sunday, December 16, 2007

Recuperar o tempo perdido

Mais de um mês depois estou de volta. Têm sido umas semanas bastante intensas (a vários níveis) e pouco tempo me sobrou para dedicar ao 13bly.
Agora que estou de "férias" (entre trabalhos, orais e exames) e sempre posso aplicar mais algum tempo à minha pessoa em geral e a este blog em particular.

Fazendo uma espécie de resumo das obras cinematográficas de maior destaque que vi:


Requiem for a Dream

Requiem é uma missa composta para um funeral. A origem da palavra em si está numa oração católica em latim que é rezada em favor de almas no purgatório:

Réquiem ætérnam dona eis, Dómine,
(Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno)

Por toda essa significância, não haveria nome que mais se adequasse a este filme.

Requiem for a Dream conta a história de quatro indivíduos, dos seus sonhos e ambições e de como elas se degradaram e perderam como consequência dos seus vícios.
O filme aborda principalmente a temática da droga, mas não só. Nesta obra prima vê-se a forma como muitos vícios que são genericamente aceites pela sociedade também podem destruir vidas, tal como a droga. O mesmo se passa com ambições desmedidas ou até mesmo o amor.
Requiem é contado em três partes. Essa divisão não foi feita ao acaso e tem a sua simbologia. O Verão, período do ano em que as pessoas andam normalmente mais animadas, representa neste filme o período durante o qual tudo (ainda) corre bem para os protagonistas. O Outono, que em inglês se chama Fall (Queda) representa isso mesmo, a queda e a perda de sensação de conforto que sentiam no verão virando a vida dos protagonistas de pernas para o ar. Finalmente, o Inverno, normalmente associada ao final do ano e ao tempo cinzento e escuro, frio e hostil. É no Inverno que os personagens batem no fundo, fruto dos erros cometidos anteriormente.
Outro ponto muito importante deste filme é o som. Desde a música aos efeitos sonoros, nada está lá por acaso e serve para intensificar tremendamente todas as sensações que o filme já por si transmite.

Absolutamente fabuloso a tantos níveis que é quase inacreditável. Forte,
chocante, surpreendente... profundamente perturbador. É um filme que devia ser obrigatório, mesmo a pessoas sensíveis pois dá uma nova perspectiva à vida e deixa-nos mais alerta.
Fiquei sem palavras uns bons 5 minutos depois de o filme acabar.




Chinjeolhan geumjassi (Sympathy for Lady Vengeance)


O último da trilogia de Chan-Wook Park e, na minha opinião o pior dos três. Tem uma narrativa diferente e até bastante interessante, uma história intrigante, mas algo se perdeu lá no meio e não foi o final em grande que se esperaria desta trilogia.

Chan-wook Park conta-nos mais uma vez uma história de vingança, desta vez protagonizada por uma mulher. Essa vingança é diferente das outras que o realizador já nos apresentou nos anteriores filmes. Geum-ja Lee foi presa, e aproveitou o seu tempo na prisão para planear meticulosamente uma vingança. Um tipo de vingança planeada com todos os cuidados já foi vista em Oldboy, mas em Sympathy for Lady Vengeance essa vingança é menos requintada e mais crua, mais ao estilo de Sympathy for Mr. Vengeance. Acaba por ser no fundo uma mistura das duas não chegando a atingir o brilhantismo de nenhuma.
É, ainda assim um filme agradável com bons momentos de humor negro e cenas bem a la cinema asitático de que tanto gosto.



Amores Perros

Amor é Traição, Amor é Angústia, Amor é Pecado, Amor é Egoísmo, Amor é Esperança, Amor é Dor, Amor é Morte.

O que é o amor?

É essa mesma a pergunta que nos coloca Alejandro González Iñárritu neste que foi o primeiro filme da sua trilogia (que abrange os também geniais 21 Gramas e Babel) e que curiosamente foi o que vi em último lugar.

Na verdade Iñárritu apresenta-nos várias visões diferentes do amor e da forma como ele domina, mesmo sem termos consciência, a nossa vida. Amores Perros conta-nos três histórias distintas em que o amor é vivido de forma totalmente diferente sendo acabam por estar interligadas.
Os cães, quase tanto como o amor são recorrentes no filme, não deixando passar em branco a intenção do realizador de comparar o amor que sentimos ao de um cão, um cão fiel ao seu dono mesmo quando é mau tratado.
Não me parece difícil fazer a analogia para as relações humanas... vivemos a nossa vida em função do amor. Amor que pode ser ou não correspondido, amor que pode tirar a nossa vida dos eixos consumindo tudo à sua volta, amor doentio... amor cão.



The Squid and the Whale

The Squid and the Whale, filme de 2005 realizado por Noah Baumbach que causou sensação em vários festivais de cinema pelo mundo fora tendo sido nomeado para um Oscar na categoria de melhor argumento original e vencido duas das três nomeações no festival Sundance (Realização e Argumento).

É um filme arrojado mas consistente que conta a história de um casal de escritores (Jeff Daniels e Laura Linney) que se divorcia e o impacto que isso tem nas vidas deles e dos seus dois filhos.
The Squid and the Whale
é um filme principalmente direccionado para adultos e para adolescentes "maduros" pois as temáticas que aborda, a linguagem utilizada e a própria representação dos actores fazem deste filme uma experiência bastante real que acaba por se entranhar em nós no decorrer do filme.
Neste filme tudo parece verdadeiro, os comportamentos, as dúvidas, os diálogos... dramático sem cair no lamechas ou no exagerado, engraçado sem cair no ridículo.
É precisamente esse equilíbrio perfeito e real que dá a este filme grande parte do seu valor.

De salientar que esta história é baseada nas experiências de infância do próprio Baumbach e talvez por isso ele tenha conseguido colocar o seu próprio sangue e suor no filme.


13bly