Saturday, December 31, 2011

Bom ano novo e champanhe com fartura



"I tell ya, it's gonna be a champagne year."
St. Vincent - Champagne Year
(Takashi Murakami @ Château de Versailles)
13bly

Thursday, December 29, 2011

Alguns dos grandes (álbuns) de 2011 - parte 4

O Natal já lá vai e a passagem de ano está à porta. O fim do ano é período de balanço, de olhar para trás avaliar como este correu na globalidade fazendo projecções para o ano que se aproxima. Como já sei que se deixar o trabalho todo para o fim vou acabar por fazer um post sem graça como o do ano passado, desta vez comecei com antecedência e, aos pouquinhos, vou deixando uns pequenos comentários sobre os álbuns que mais companhia me fizeram em 2011 - uma espécie de flash-reviews. No final de cada um destes posts deixo ainda algumas sugestões de álbuns também de 2011 que, apesar de não lhes ter feito tanta rodagem, convém não deixar escapar em branco. Esta é a quarta parte, a última de 2011.

parte 1 | parte 2 | parte 3 | parte 4 | parte 5
SPACE IS ONLY NOISE
NICOLAS JAAR
Nicolas Jaar foi para mim uma das grandes (se não mesmo a maior) descobertas/revelações de 2011. O cardápio de Jaar já somava uma série de EPs mas só agora lançou o seu primeiro longa-duração. Neste Space is Only Noise, Jaar parece afastar-se um pouco das suas raízes house e minimal e baixar o ritmo das batidas, tornando a sua música bem mais ambiental do que dançável - comigo isso resultou que nem ginjas.

Ouvir Space is Only Noise é para mim como uma terapia. A estrutura conceptual de Être é a melhor forma de mergulhar de cabeça neste disco. Fica-se totalmente absorvido e entra-se num transe do qual é difícil de sair uma vez que as faixas se interligam de forma extremamente fluída. A mistura de sons é incrível mas mais incrível ainda é a forma como Jaar conjuga tudo sem deixar costuras à vista. As vozes distorcidas de Problems With the Sun, os sons levemente asiáticos de Too Many Kids Finding Rain in the Dust, os ecos espaciais da faixa que baptiza o disco, a guitarra sempre cortada de Variations, a sample de Ray Charles em I Got a Woman, os pequenos ruidos orgânicos que se ouvem por todo o disco...

As batidas lentas de Jaar transportam-me para um mundo interior do qual eu não quero sair e é precisamente esse o maior argumento para classificar Space is Only Noise como um dos discos do ano.

LISBOA MULATA
DEAD COMBO
Se o disco de Nicolas Jaar me transporta para algum lugar abstracto no meu subconsciente, o novo dos Dead Combo leva-me a um local bem concreto - Lisboa. E não, não é apenas sugestão por causa do título, Tó Trips e Pedro Gonçalves conseguiram mesmo, em 11 faixas, captar o que me parece ser a essência das várias facetas da cidade das sete colinas.

A viagem inicia-se nos ritmos quentes de África (Lisboa Mulata e Cachupa Man) cuja presença está tão marcada na nossa capital desde o período dos descobrimentos mas logo deita um véu de mistério sobre a cidade (Anadamastor) e começa a explora-la de lés-a-lés: dos ambientes dúbios do Cais de Sodré (Blues da Tanga) às ruas nostálgicas e com cheiro a fado de Alfama (Esse Olhar Que Era Só Teu), da cultura popular (Marchinha do Santo António Descambado) à cultura intelectual (Ouvi o Texto Muito ao Longe - com letra escrita por Sérgio Godinho e declamada por Camané).

Depois de algumas aventuras vividas com a Orquestra das Caveiras, os Dead Combo têm com Lisboa Mulata um regressar às suas origens não só geográficas (os dois músicos são lisboetas) como na forma de trabalharem só os dois recorrendo a arranjos mais simples. Foi um regressar em grande diga-se de passagem.

STRANGE MERCY
ST. VINCENT
Tal como disse na epifania, foi este Strange Mercy (mais especificamente Cruel e Surgeon) que me fez começar a gostar de St. Vincent. Esse é um mérito que nunca ninguém há-de tirar a este disco. Felizmente Strange Mercy é mais ambicioso do que isso e não se fica apenas por esse 'prémio de consolação'.

A chave deste disco parece estar em 'strange'. A forma de cantar e tocar de Annie Clark são já de si fora do vulgar sendo que neste álbum St. Vincent quase reinventou a sua arte tornando-a ainda mais... estranha (aquele "estranho-bom"). As música, essas tanto acumulam tensão e se tornam explosivas (Surgeon, Neutered Fruit) como se mantêm naquele tom de balada com melodia delicada (Champagne Year, Dilettante). Strange Mercy é por vezes orelhudo e até dançável (Cruel) mas logo cai em depressão (Cheerleader), transforma-se em rock (Northern Lights) para mais tarde fazer lembrar algum quase-synth-pop marado (Histerical Strenght). São curiosas estas discrepâncias e a forma como resultam bem em conjunto.

Apesar desta aparente mistura a coesão de Strange Mercy não fica em risco - nem o álbum perde a sua definição nem os temas a sua identidade própria. À terceira foi de vez. St. Vincent convenceu-me e concebeu um álbum digno de louvores e de destaque nas listas de 'melhores do ano'.

MENÇÕES HONROSAS
INNI
Sigur Rós
THE HEART IS A DRUM MACHINE OST
Steve Drozd
WOLFROY GOES TO TOWN
Bonnie 'Prince' Billy
13bly

Tuesday, December 27, 2011

Monday, December 26, 2011

Fotograma XXIX - Le Concert

Há filmes que se fossem baseados em factos verídicos tornar-se-iam logo muito melhores. Le Concert, é um desses filmes. Não que por ser totalmente ficcional seja um mau filme, nada disso. Até o achei um filme bastante bom mas a história é tão hiperbólica que tornaria tudo ainda mais delicioso se tivesse um fundo de veracidade.

Andrey Filipov era o maestro da brilhante orquestra Bolshoi até ao dia em que o regime lhe pediu que expulsasse os músicos judeus e, tendo este recusado, lhe interrompeu o último concerto e acabou com a sua carreira. Três dezenas de anos mais tarde Filipov ainda trabalha no Teatro Bolshoi mas como contínuo. Certo dia, enquanto limpava o gabinete do director, o teatro recebe um fax com um convite para a orquestra tocar em Paris e, num acesso de loucura, decide rouba-lo com a ambição de reunir a sua orquestra antiga e, fazendo-se passar pela Bolshoi, terminar o concerto que tinha ficado a meio.

Como será de esperar, essa sua ideia peregrina origina mil-e-uma situações hilariantes com ele e com a sua orquestra cujos elementos foram entretanto, cada um para seu lado. Mas nem só de humor vive Le Concert. Por trás das loucuras deste grupo de músicos improvável (ciganos, judeus e máfia russa) há um passado comum bem mais dramático que se vai revelando com o decorrer do filme e que atinge o seu auge na intensa sequência final - o concerto! A história maluca e os personagens exagerados talvez tenham ajudado mas, neste filme, o estilo de Radu Mihăileanu lembrou-me o de Kusturica embora com um pouco mais de requinte. Afinal é um filme 'sobre música clássica' e portanto tem de ser um pouco mais refinado do que as loucuras balcânicas do realizador sérvio.

Le Concert não é um filme de uma vida mas é divertido e inspirador ao mesmo tempo chegando até a ser emotivo sem se tornar lamechas. Uma belíssima escolha para ver com a família nestes dias preguiçosos entre datas festivas.

13bly

Friday, December 23, 2011

Feliz Natal



You said it was like Christmas, but you were wrong.
It wasn't like Christmas at all.
Low - Just Like Christmas
13bly

Tuesday, December 20, 2011

Alguns dos grandes (álbuns) de 2011 - parte 3

Está o Natal à porta. Daqui até à passagem de ano é um pequeno passo. A grosso modo estamos portanto no final do ano, aquela época de balanço em que se olha para trás e se avalia como este correu na globalidade. Como já sei que se deixar o trabalho todo para o fim vou acabar por fazer um post sem graça como o do ano passado, desta vez vou começar com antecedência e, aos pouquinhos, vou deixar uns pequenos comentários sobre os álbuns que mais companhia me fizeram em 2011 - uma espécie de flash-reviews. No final de cada um destes posts deixo ainda algumas sugestões de álbuns também de 2011 que, apesar de não lhes ter feito tanta rodagem, convém não deixar escapar sem uma audição. Esta é a parte três.

parte 1 | parte 2 | parte 3 | parte 4 | parte 5
BON IVER, BON IVER
BON IVER
Entre o lançamento de For Emma, Forever Ago (2008) e a data de edição deste disco bi-homónimo, Justin Vernon andou ocupado - lançou um outro EP com assinatura Bon Iver, lançou mais dois belíssimos álbuns (de outros projectos: Gayngs e Volcano Choir) e participou em temas com Kanye West e James Blake. O que poderia este homem ter ainda na manga? A resposta é Bon Iver, Bon Iver.

À primeira audição, com excepção de Perth, o quase-perfeito tema de abertura, pareceu-me que não havia muito a reter deste disco. Com audições repetidas e casuais fui-me apercebido que havia qualquer coisa mais que não se captava à primeira, algo que ultrapassa a estrutura simples de uma melodia bonita e mudei de opinião... Agora, quando ouço Bon Iver, Bon Iver, perco-me nos mil-e-um pormenores minuciosos. Cada um dos oito temas possui muitas camadas de complexidade e não tinha conseguido apreende-las com uma audição isolada.

A forma como o dedilhado acústico surge em Minnesotta, WI, o saxofone discreto de Holocene, umas campainhas distantes em Michicant... enfim, são demasiados bombons para enumerar. Diz-se que os pormenores fazem a diferença. Bon Iver, Bon Iver não podia ser melhor exemplo disso. Para além disso tem um dos artworks mais bonitos de sempre.

CHROMATIC
YOU CAN'T WIN, CHARLIE BROWN
Já no ano passado o EP homónimo do sexteto leiriense foi um dos meus lançamentos favoritos. Este ano repetem a proeza com o seu primeiro longa-duração. Chromatic, assim se chama o álbum, foi bem baptizado, os seus temas são uma paleta impressionante de cores: dos energéticos tons quentes de Primavera/Verão de Over the Sun/Under the Water e I've Been Lost aos azulados melancólicos de a While Can Be a Long Time e Glimpse com passagem pelos verdes óbvios das duas Green Grass.

O videoclip de Over the Sun/Under the Water não podia ter sido melhor escolhido para fazer a apresentação deste disco. A imagética é perfeita, campos verdejantes debaixo de um sol que brilha num céu limpo e azul. Chromatic é um álbum imediato daqueles de amor à primeira audição. As melodias entram bem no ouvido e todas as peças encaixam bem umas nas outras. Sejam as guitarras ou a percussão, os jogos vocais ou as palmas e os xilofones... tudo se combina na quase perfeição de um disco pop muitíssimo bem conseguido.

Afonso Cabral, David Santos, João Gil, Luís Costa, Salvador Meneses e Tomás Sousa criaram uma espécie terapia em forma disco. Que bom que é ter a sensação de liberdade de um mundo solarengo à distância de uma música.

HARDCORE WILL NEVER DIE, BUT YOU WILL
MOGWAI
Os Mogwai deram em Paredes de Coura um dos concertos do ano, mas isso nada tem a ver com a presença deles nesta 'lista'. Ou talvez tenha, mas isso não é importante, nunca disse que estas escolhas seriam imparciais. O que importa é que, independentemente do concerto incrível, os escoceses mais famosos do post-rock lançaram um disco e pêras que, já agora, tem um dos melhores títulos de sempre.

Nota-se que os Mogwai quiseram experimentar coisas novas - quebraram convenções, correram riscos e saiu-lhes tudo bem. As diferentes influências são orgulhosamente assumidas. Desde toques electrónicos (mais audíveis nas vozes distorcidas de Mexican Grand Prix e George Square Thatcher Death Party) à sua veia mais metaleira (You're Lionel Richie) passando pelos temas mais melodiosos (White Noise, Letters to the Metro) e mais rockeiros (Rano Pano, San Pedro) sem esquecer a apoteose de How to Be a Werewolf lá pelo meio.

Ao abandonarem aquela fórmula convencional do post-rock (os lentos crescendos que culminam numa explosão apoteótica) os Mogwai corriam o risco de tirar intensidade à sua música. Ao invés disso, o que aconteceu foi um aumento da imprevisibilidade e consequentemente um maior impacto de cada tema. Há música que não é feita para ser ouvida mas para ser apreciada. Encaixo este álbum nessa categoria. Hardcore Will Never Die, But You Will é um disco que marca.

MENÇÕES HONROSAS
LET ENGLAND SHAKE
PJ Harvey
MIND BOKEH
Bibio
FALA MANSA
Norberto Lobo
13bly

Sunday, December 18, 2011

Altos Lugares - High Places @ CCVF, Guimarães (17/12/2011)

Rob Barber e Mary Pearson são os High Places. Oriundos da frutífera Brooklyn, os dois terminaram no Sábado, em Guimarães, uma tour europeia de 4 semanas. Com eles traziam o novo Original Colors, o seu mais recente trabalho que levou a sua sonoridade a outros lugares (se são mais altos ou não isso já é discutível). A noite estava fria e a vontade de sair de casa era pouca. Hesitei. Não conhecia a banda e estava-se tão confortável em casa a ver um filminho... "Que se lixe!" pensei eu ao tomar a decisão, seria afinal o último concerto do ano - importa dizer que não me arrependi da decisão.


Passava ligeiramente da hora marcada quando a dupla nova iorquina subiu ao palco e tomou conta dos seus inúmeros aparelhómetros. Foram poucos os que se aventuraram até ao CCVF naquela noite gelada de Dezembro e, como espelho das condições climatéricas, os poucos que compareceram mantiveram também uma postura fria e distante ficando sentados durante todo o concerto apesar das acaloradas batidas sintetizadas. O ritmo era certeiro mas não foi suficiente para aquecer o ambiente.

Se por vezes a música dos High Places tinha uns coloridos convidativos a uns passitos de dança outras vezes o experimentalismo sobressaía e outras ainda eram as sombras que dominavam. Nessas ocasiões, o som chegava a soar ligeiramente agressivo - não que estes mundos sejam auto-exclusivos, atenção. Neste caso a mistura até parecia resultar bem mas estranhamente não conquistou o público. Ficou a ideia que este era constituído mais por curiosos como eu do que por fãs propriamente ditos. A sonoridade dos High Places é multifacetada e talvez tenha sido precisamente isso que apanhou o público de surpresa. Não sei se a dupla sentiu essa distância - imagino que sim - mas a verdade é que também não fizeram nada para a tentar reduzir. Por vezes a música só não chega.

Talvez com uma casa mais cheia as coisas tivessem corrido doutra forma mas naquelas condições não se gerou o ambiente ideal para um espectáculo desta natureza. Apesar de ter valido a pena, este acabou por ser um concerto algo morno (talvez até a tender para o frio) - uma situação que poderia ter sido ultrapassada com um pouco mais de comunicação por parte da banda ou com um simples desafio ao público para que este se levante e chegue mais próximo do palco. Foi pena ter sido assim.

13bly

mixtape número noventa e três


13bly

Thursday, December 15, 2011

avulso - run over the sun, under the water

avulso (latim avulsus, -a, -um, separado, arrancado)
adj.
isolado, solto, desconexo, desirmanado.
Afonso Cabral dos You Can't Win, Charlie Brown
Contexto - Café Concerto
Local - C.C. Vila Flor, Guimarães
Data - 26 Nov 2011
13bly

Wednesday, December 14, 2011

Sem praticar habilidades - B Fachada @ CCVF, Guimarães (09/11/2011)

Com 5 anos de carreira às costas, B Fachada começa a ganhar visibilidade. Considerado como o 'novo trovador português', Bernardo (nome próprio) foi já comparado a alguns dos grandes nomes 'do seu campo'. Falo por exemplo de Sérgio Godinho (com quem já tocou e a quem dedica um tema) e até José Mário Branco (Deus, Pátria e Família - o EP deste mesmo ano foi equiparado ao histórico F.M.I.). Apesar de lisonjeiras, B Fachada parece quase fugir dessas comparações procurando assumir uma identidade própria e reinventando-se a cada trabalho editado.

Confesso que a princípio não ia muito à bola com B Fachada. O tema Zé! foi o meu primeiro contacto com o músico de Cascais e não o consegui levar a sério. Apesar de tudo, com o tempo estranheza venceu-me e a sua música acabou por se entranhar. Desde então acompanho de perto o seu percurso mas, surpreendentemente, ainda não o tinha apanhado em palco. Ainda antes do anuncio do disco novo já eu tinha o bilhete para os concertos na Culturgest do Porto. "É desta!" pensava eu mas por motivos profissionais acabei por não conseguir assistir a nenhum desses concertos, tive de adiar esse encontro por mais uns dias. Por sorte o espectáculo no C.C. Vila Flor teria um formato em tudo idêntico ao da Culturgest (piano solo) e, apesar da sala não ter metade do encanto, viria a ser um belíssimo prémio de consolação.


O acabadinho de sair, B Fachada II (assim baptizado por mim seguindo a linha daquilo que se fez com os Led Zeppelin) é o disco mais intimista que Fachada já produziu e daí esta série de concertos ao piano. A iluminação fixa e de baixa intensidade combinada com a ausência de qualquer adereço em palco (para além de um elegante piano de cauda e do respectivo banco), faz com que nada desvie a atenção do músico e da sua música - aquilo que afinal realmente interessa. Música sem espinhas, sem fachadas, artifícios ou habilidades.

Visivelmente bem humorado e divertido com o espectáculo, para além de quase todos os temas do álbum novo, Bernardo tocou ainda a incrível e muito polémica Deus, Pátria e Família dando-lhe, ao vivo, um tom ainda mais irónico e provocador. Terminado o épico de 20 minutos o espectáculo estava na recta final com tempo apenas para duas rápidas passagens por É P'ra Meninos (o disco 'infantil' de 2010) e uma por B Fachada I (2009) - Só te Falta Seres Mulher como foi o tema de encerramento. Alguns minutos de incessantes aplausos depois, B Fachada acaba por voltar a palco para interpretar Os 2 no Polibã, um dos dois temas novos que faltavam (por tocar ficou apenas Mané-Mané que, sendo canção de guitarra com batidas electrónicas, não encaixava neste concerto).

B Fachada já tinha mostrado coragem e ousadia q.b. ao prometer dois discos por ano (e cumprir sem reciclar ideias). Ao apresentar-se ao vivo num formato que lhe expõe todas as fragilidades Fachada reforça essa ideia. Um esforço meritório que, nenhum fã pode negar, compensou largamente o risco e acabou por transformar todas as potenciais fraquezas em pontos fortes inabaláveis. Um concerto a recordar.

13bly

Sunday, December 11, 2011

Fotograma XXVIII - Condução arriscada


Drive é um filme curioso. Não seria difícil imaginar uma versão alternativa deste filme... uma versão com a mesma história mas cheia de cortes rápidos e perseguições longas e alucinantes que, inevitavelmente, causariam montes e montes de acidentes vistosos. Afinal Drive é a história de um piloto que de dia é duplo de cinema mas que durante noite pratica uma actividade menos lícita - fornece os seus serviços de condução como meio de fuga para criminosos.

Contado desta forma o argumento quase poderia passar por um qualquer Velocidade Furiosa. Mas não. Drive distingue-se dos restantes filmes 'do género' precisamente pelo seu deliberado e inesperado ritmo lento. É verdade que o filme também tem os seus momentos de quinta-a-fundo, mas os que realmente marcam são aqueles passados ao relanti, os silencios, os longos planos da cidade. A decisão de fazer um filme de acção parado foi arriscada mas revelou-se uma aposta ganha por parte de Nicolas Winding Refn (o realizador de Bronson) - ao invés de criar "mais um" filme, Winding Refn criou uma obra incomum que depressa ganhou algum estatuto de culto ao acumular louvores por onde passa.

13bly

mixtape número noventa e dois


13bly

Saturday, December 10, 2011

Last week at the Casa da Música - Panda Bear @ Casa da Música, Porto (04-12-2011)

Panda Bear é o nome artístico de Noah Lennox, um norte americano radicado em Lisboa que para além do seu projecto a solo é também um dos mentores dos enormes Animal Collective. Apesar desta sua proximidade com Portugal os concertos de Panda Bear, tanto a solo como com a sua banda, são bastante raros por estes lados. Vê-lo na Casa da Música seria então uma oportunidade a não perder... infelizmente poucas pessoas terão pensado mesmo.

Foi sem surpresa mas com alguma tristeza que me deparei com uma Sala Suggia muito despida. O impacto foi maior ainda pois precisamente na noite anterior tinha visto a sala quase a rebentar pelas costuras graças ao Clubbing e aos Battles. As razões fraca aderência deste concerto são fáceis de compreender - Panda Bear não é definitivamente para quaisquer ouvidos, a divulgação foi pouca, era Domingo à noite e, talvez acima de tudo, numa altura em que se contam todos os tostões, os 20€ de bilhete não ajudavam. Não deixa apesar de tudo de ser pena ver um artista da estirpe de Noah Lennox subir ao palco perante uma lotação visivelmente abaixo de metade.


Panda Bear, iniciou o espectáculo com pontualidade mas não veio sozinho. Trouxe consigo Sonic Boom (alter-ego de Peter Kember, ex-Spacemen 3) que o iria apoiar nas electroniquices, deixando-o mais livre para se dedicar à guitarra. Para além dos dois e de um sem número de aparelhos eléctricos, o palco enchia-se ainda com uma tela branca preparada para receber as projecções psicadélicas de Danny Perez (colaborador habitual dos Animal Collective com quem fizeram ODDSAC - uma espécie de filme-experiência/álbum-visual).

Nas cerca de duas horas de concerto correu-se Tomboy - o álbum novo - quase de lés-a-lés. Slow Motion, Last Night at the Jetty, You Can Count on Me e claro, Benfica, são exemplos de alguns dos temas que abrilhantaram a noite na Casa da Música. Mais para o final revisitou-se Person Pitch (2005) com alguns dos seus melhores temas - Comfy in Nautica e Bros.

Ao longo do concerto as músicas fluíam umas nas outras e, no meio de toda a mistura de ritmos alucinantes e efeitos psicadélicos, surge de forma quase natural um Bolero de Ravel - uma escolha inesperada mas não de todo deslocada. Uma vez que não houve quebras na música os aplausos acumularam-se todos para o final. Estes prolongaram-se energicamente (ficou a ideia que na audiência seriamos poucos mas bons) até que Panda Bear regressasse ao palco para o encore da praxe.

As oportunidades de ver Panda Bear são tão poucas que não poderia ter deixado escapar esta. Foi um concerto foi intenso e uma noite que me teria arrependido de perder. Espero que todos os que não marcaram presença se arrependam amargamente de não o terem feito.

13bly

Friday, December 9, 2011

Se Deus tivesse um mp3... [29]

... de certeza que esta música estaria lá!



Hate was just a legend and war was never known
The people worked together and they lifted many stones.

They carried them to the flatlands
And they died along the way
But they built up with their bare hands
What we still can't do today.
Neil Young - Cortez the Killer
13bly

Thursday, December 8, 2011

People won't be people - Clubbing @ Casa da Música (03-12-2011)


Menos de um mês depois da edição anterior o Clubbing regressou à Casa da Música pela última vez em 2011. Já começa a parecer tradição o último Clubbing do ano ser uma festa rija - no ano passado foram os Ratatat, este ano os mestres de cerimónias foram os Battles e, cada um a seu jeito, deram um dos melhores concertos do respectivo ano. Três meses depois da passagem por Paredes de Coura os Battles regressaram aos palcos portugueses. Foi uma oportunidade única de reviver os momentos incríveis passados na margem do Tabuão ao som dos ritmos contagiantes da banda de Nova Iorque.

Ao contrário do que aconteceu na edição anterior, desta vez não deambulei na Casa da Música. Desloquei-me quase directamente para a Sala Suggia e lá fiquei com medo que a lotação esgotada deste Clubbing me fizesse perder os Battles. Muita gente deve ter pensado como eu pelo que a sala rapidamente se foi compondo até que, à hora do concerto mais aguardado da noite, parecia rebentar pelas costuras - não sei como estaria de lotação da Sala 2 mas imagino que não tivesse tanta gente assim a ver os Best Youth e os Throes + The Shine.

Antes ainda da actuação dos Battles seria dos canadianos Suuns a honra de subir ao palco para apresentar o seu primeiro álbum - Zeroes QC. Para além do rock que serve de base ao som dos Suuns não é difícil encontrar vestígios de electrónica, industrial, drone, post-punk ou kraut sendo alguns destes elementos mais evidentes nuns temas do que noutros. Esta diversidade torna o som dos canadianos difícil de definir e talvez por me identificar mais com algumas vertentes do que com outras me pareceu um espectáculo com altos e baixos. Ainda assim a apreciação global foi bastante positiva e fiquei com vontade de explorar o repertório da banda confiante de que se irá fazer cumprir a velha máxima "primeiro estranha-se e depois entranha-se".

Foi ainda durante o concerto dos Suuns que um grupo de corajosos irrequietos se aventurou para a frente do palco abandonando as cadeiras que pouco sentido faziam neste Clubbing. Era esse o mote que faltava e num instante aquele espaço livre ficou preenchido de gente ansiosa por deixar as cadeiras para trás e de não voltar mais a elas nesta noite.

Os Battles apresentaram Gloss Drop pela segunda vez em palcos nacionais perante uma sala praticamente a abarrotar. Como seria de esperar, o alinhamento do concerto pouco diferiu do espectáculo de Paredes de Coura. Apesar de tudo, objectivamente diria que este concerto foi superior tanto em termos de performance como de intensidade.

Porquê? Em primeiro lugar o som robusto dos Battles ganha ainda mais corpo numa sala fechada como a Sala Suggia - comparando os dois concertos, o da Casa da Música sai a ganhar por muitos em termos de intensidade sonora. Outro ponto que marcou a diferença foi o tom mais experimental que o trio adoptou nalguns temas quando em Paredes me pareceram mais agarrados ao disco. Por fim importa referir o alongado encore (que em Paredes não existiu) que aqui permitiu encerrar o concerto com Sundome, a última faixa de Gloss Drop. Ainda assim, talvez pelo impacto da primeira vez ou pelo ambiente diferente, vibrei bastante mais no concerto de Paredes.

Os Battles encerraram e bem mais um ano de Clubbings de alto nível. Resta agora esperar uma nova temporada com a qualidade (e preço) a que a Casa da Música já nos tem habituado. Em 2012 há mais e não há crise que nos valha (espero eu).

13bly

Tuesday, December 6, 2011

Thursday, December 1, 2011

avulso - and the glitter is gone

avulso (latim avulsus, -a, -um, separado, arrancado)
adj.
isolado, solto, desconexo, desirmanado.
Contexto - Optimus Clubbing
Local - Casa da Música, Porto
Data - 19 Nov 2011
13bly