Monday, December 26, 2011

Fotograma XXIX - Le Concert

Há filmes que se fossem baseados em factos verídicos tornar-se-iam logo muito melhores. Le Concert, é um desses filmes. Não que por ser totalmente ficcional seja um mau filme, nada disso. Até o achei um filme bastante bom mas a história é tão hiperbólica que tornaria tudo ainda mais delicioso se tivesse um fundo de veracidade.

Andrey Filipov era o maestro da brilhante orquestra Bolshoi até ao dia em que o regime lhe pediu que expulsasse os músicos judeus e, tendo este recusado, lhe interrompeu o último concerto e acabou com a sua carreira. Três dezenas de anos mais tarde Filipov ainda trabalha no Teatro Bolshoi mas como contínuo. Certo dia, enquanto limpava o gabinete do director, o teatro recebe um fax com um convite para a orquestra tocar em Paris e, num acesso de loucura, decide rouba-lo com a ambição de reunir a sua orquestra antiga e, fazendo-se passar pela Bolshoi, terminar o concerto que tinha ficado a meio.

Como será de esperar, essa sua ideia peregrina origina mil-e-uma situações hilariantes com ele e com a sua orquestra cujos elementos foram entretanto, cada um para seu lado. Mas nem só de humor vive Le Concert. Por trás das loucuras deste grupo de músicos improvável (ciganos, judeus e máfia russa) há um passado comum bem mais dramático que se vai revelando com o decorrer do filme e que atinge o seu auge na intensa sequência final - o concerto! A história maluca e os personagens exagerados talvez tenham ajudado mas, neste filme, o estilo de Radu Mihăileanu lembrou-me o de Kusturica embora com um pouco mais de requinte. Afinal é um filme 'sobre música clássica' e portanto tem de ser um pouco mais refinado do que as loucuras balcânicas do realizador sérvio.

Le Concert não é um filme de uma vida mas é divertido e inspirador ao mesmo tempo chegando até a ser emotivo sem se tornar lamechas. Uma belíssima escolha para ver com a família nestes dias preguiçosos entre datas festivas.

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