Monday, October 31, 2011

Entre a genialidade e o mau gosto


O nome Flaming Lips é praticamente sinónimo de loucura. Wayne Coyne e os seus companheiros são completamente loucos mas é isso que os torna tão bons. A abordagem descomplexada e desformatada que eles têm da música permite-lhes fazer coisas que, para a grande maioria dos artistas é impensável. A banda de Oklahoma já deu um concerto num jardim zoológico, já recriou o Dark Side of the Moon na íntegra, já lançou um álbum em quatro CDs que podiam ser combinados livremente entre si, já lançou músicas em pen-drives embebidas em caveiras de goma comestível, já fez um filme sobre o Natal em Marte e, mais recentemente, já lançou uma música de 6 horas em conjunto com um brinquedo de luzes. Para eles não há barreiras.

Este Halloween foi a data escolhida para a sua mais recente maluqueira. 7 Skies H3 é uma música de 24 horas que está no ar em live-streaming durante o dia de hoje (começou emissão à meia noite de Oklahoma, sensivelmente 5 horas da manhã por cá). Como se uma música de 24 horas não fosse suficientemente, 7 Skies H3 está à venda pela módica quantia de pela módica quantia de $5000USD numa edição limitada de 13 unidades cujo formato é no mínimo caricato - esta música vem dentro de um disco rígido alojado no interior de uma caveira humana verdadeira. De mau gosto? Sim, mas de uma forma genial!

Ainda faltam algumas horas pelo que quem estiver curioso pode ouvir aqui (ou aqui se a primeira já estiver cheia).

13bly

Sunday, October 30, 2011

Festival Fast Forward 2011 GMR - O Ladrão de Sonhos

Como este foi o fim de semana Fast Forward - o festival de ritmo acelerado no qual tenho vindo a participar há já três edições - hoje, em vez da mixtape deixo aqui O Ladrão de Sonhos. Esta curta metragem foi desenvolvida integralmente (da concepção à realização) em 24 horas e com base no tema "SONHO FRUSTRADO três minutos para decidir" e foi com ela que, com mais quatro amigos, participei no Fast Forward 2011 GMR.


Não me vou pôr aqui a dizer exaustivamente como é inesquecível uma participação no Fast Forward, como aquela pressão de fazer um filme em 24 horas dá muita pica, como vale bem a pena a noite sem dormir ou como se vivem momentos únicos - já o fiz por duas vezes neste blog (primeiro aqui e depois aqui). Vou avançar essa parte e passar aos (também repetidos mas inevitáveis) agradecimentos à velha-a-branca por esta oportunidade e dar-lhe ainda os parabéns por uma nova edição do festival sem incidentes de maior. Inevitável é também o agradecimento à Ana Cabrita, ao António Reis, ao Renato Seara e à Sara Meneses - os tais quatro amigos que formam a equipa. Obrigado pelos bons momentos e pela noite/dia/noite incríveis.

Venha daí a próxima edição!

13bly

Wednesday, October 26, 2011

avulso - pensei em chão

avulso (latim avulsus, -a, -um, separado, arrancado)
adj.
isolado, solto, desconexo, desirmanado.
Concerto de Filho da Mãe
Contexto - Bodyspace au Lait
Local - Café au Lait, Porto
Data - 27 Jun 2011
13bly

Monday, October 24, 2011

América profunda - Bonnie 'Prince' Billy @ CCVF, Guimarães (24-10-2011)

É tal e qual como disse no post anterior: embora muita gente não se aperceba disso, o country não tem necessariamente de ser mau. Bonnie 'Prince' Billy - pseudónimo de Will Oldham - é, nos seus muitos momentos brilhantes, um dos melhores exemplos disso. Apesar das condições climatéricas adversas foi perante uma plateia bem composta que Bonnie 'Prince' Billy se apresentou em Guimarães (o concerto de hoje no Maria Matos em Lisboa, esse já está esgotado há uns dias). Bem vestido com uma fatiota a fazer lembrar Nick Cave, Will Oldham e não perdeu tempo com saudações e deu imediatamente início ao espectáculo.

Muito bem acompanhado pelos The Cairo Gang - seus partners-in-crime de há uns anos a esta parte, Will Oldham traz a Portugal Wolfroy Goes to Town - o seu novo trabalho. Este disco é uma espécie de regressar às origens pois nele Bonnie 'Prince' Billy retoma uma sonoridade um pouco mais soturna e introspectiva que, na minha opinião, lhe assenta melhor do que o tom mais ligeiro que tinha adoptado nalguns dos seus trabalhos mais recentes. De entre os cinco elementos da banda tenho de destacar Angel Olsen - a dona da belíssima e poderosa voz que se ouve a cantar com Will Oldham neste novo álbum. A voz de Bonnie, essa é menos forte que a de Angel mas não é desprovida de emoção, e imprime nas suas canções a dose certa de angústia e fragilidade. Apesar de muito diferentes (ou talvez precisamente por isso) as vozes dos dois complementam-se de uma forma notável e quando o guitarrista, Emmett Kelly se junta aos coros assiste-se a um equilíbrio perfeito de três vozes que certamente teve muitas horas de ensaio por trás.

Com o lançamento de Wolfroy Goes to Town seria de esperar um espectáculo centrado essencialmente no novo disco mas Oldham levou-nos também numa viagem ao passado trazendo para o palco muitos temas de trabalhos anteriores. Como que a induzir propositadamente o público em erro, o concerto arrancou da mesma forma que o novo álbum (No Match é o tema de abertura) mas rapidamente as coisas mudaram de figura e o espectáculo virou-se para o passado com a bonita Love Comes to Me. Só mais tarde com Quail and Dumplings (o single do novo disco) acompanhada de Time To Be Clear se regressou a Wolfroy Goes to Town. Este foi para mim um dos momentos altos da noite - mais ainda porque foi seguido pela incontornável I See a Darkness que, apesar de perder um pouco de intensidade neste novo arranjo, que não deixa de, ainda assim, ser assombrosa - não foi por acaso que Johnny Cash gravou uma versão deste tema.

Embora Bonnie 'Prince' Billy não seja de forma alguma um tradicionalista - o prefixo 'alt' assombra as etiquetas que lhe são colocadas - a sua música está profundamente enraizada no country. Dessa forma, se esquecermos os rótulos por um momento - se é "alternativa" ou "não alternativa" não é relevante - a sonoridade é inconfundível e evocativa de uma América sulista e de tradição rural. Nessa paisagem idealizada, Will Oldham foi o hillbilly e a sua música foi a banda sonora perfeita para uma noite de vendaval e chuva forte.

13bly

Thursday, October 20, 2011

Ao contrário do que muitos pensam...

... o country não tem de ser necessariamente mau.


Bonnie 'Prince' Billy
Domingo às 22h no CCVF, Guimarães
13bly

Monday, October 17, 2011

Sete cães a um osso - D'Bandada Optimus Discos @ Porto (15-10-2011)

Se aos muitos milhares de pessoas que usualmente frequentam a baixa portuense juntarmos uma noite agradável, um evento atractivo a custo zero e mais umas quantas de pessoas que terão ficado por ali depois da manifestação de 15 de Outubro o que se obtém é uma noite que poderia ter sido memorável mas que acabou por ser uma experiência mal sucedida devido ao excesso de público.


Do ponto de vista da Optimus imagino que esta D'Bandada tenha sido um sucesso tremendo - todos os espaços esgotados, milhares de pessoas nas ruas com panfletos e diversos acessórios cor-de-laranja - mas as coisas são bem diferentes 'na óptica do utilizador'. As longas filas e a lotação reduzida da maior parte dos espaços tornaram numa tarefa quase impossível assistir aos concertos. A afluência era tal que deve ter havido um número significativo de pessoas que nem a um espectáculo assistiu e mesmo eu apenas consegui acesso a uma das salas - o Café Ceuta para ver Minta & the Book Trout e Márcia.

O facto de o evento ser gratuito não o torna imune a críticas. É por isso acredito que o evento, caso venha a repetir-se, este deverá ser repensado pois nestes moldes é deveras frustrante ir à D'Bandada. Talvez isto se resolva com mais concertos ao ar livre, cobrando algum valor simbólico ou, tomando a bodyspace como exemplo, realizando o evento durante a tarde de forma a não haver o encontro entre o 'pessoal da noite e dos copos' com o 'pessoal dos concertos'. Para além disso, esta última sugestão serviria também para dinamizar a baixa num período que não o nocturno uma vez que, durante as noites e especialmente ao fim de semana, ela está sempre ao rubro (com ou sem concertos).


Mas vamos esquecer as partes más por um minuto e vamos às partes boas. Estava um calor infernal no Café Ceuta quando Francisca Cortesão, ou Minta como prefere que lhe chamem no meio artístico, subiu ao pequeno palco. Não o fez sozinha mas também não o fez com a sua companhia habital - os Book Trouts - fê-lo sim com Francisco Silva, também conhecido por Old Jerusalem. O concerto começou com um par em palco mas quando terminou estavam este era ocupado por três pessoas. No último tema Minta convidou Márcia - as duas referiram que partilham o palco com frequência - para se juntar a ela e a Old Jerusalem. Mais tarde Márcia viria a retribuir a gentileza depois de simpaticamente percorrer alguns dos temas do sublime EP homónimo (editado precisamente pela Optimus Discos) e de (o não-tão-bom-álbum de estreia que irá ser reeditado em breve).

Tanto Minta como Márcia apresentaram-se num registo puramente acústico e de grande cumplicidade apesar das difíceis condições do Café Ceuta. Não deve ser nada fácil dar um concerto acústico e fazer-se ouvir por entre grupos a jantar e a soltar sonoras gargalhadas, funcionários a tirar cafés e a servir bebidas ao balcão e louças diversas que caem ao chão e se estilhaçam em mil pedaços. Ainda assim, apesar da falta de respeito patente nalgumas destas dificuldades, são coisas desse tipo que dão uma textura especial a estes pequenos concertos.

A parte final da festa decorreu no mosteiro de S. Bento da Vitória animada pelas batidas fortes de Stereossauro e DJ Ride num notável contraste entre os ritmos modernos do hip-hop e a envolvência algo mística deste espaço antigo. O único problema aqui resumiu-se novamente a uma palavra - "fila", embora desta vez a situação seja bem mais difícil de compreender. Neste caso as filas não eram para entrar mas sim para consumir. Entre a 1h e as 3h da manhã o bar era aberto pelo que estava bastante concorrido, no entanto não havia gente minimamente suficiente para atender aos pedidos dando origem a novas esperas desesperantes (chegou a uma hora).

Resumindo da forma mais simples possível: a D'Bandada é sem dúvida uma iniciativa louvável, só é pena que as coisas não tenham realmente corrido da melhor maneira.

13bly

Thursday, October 13, 2011

Everybody's wishin' me a happy birthday.

Everybody's wishin' me a real good time.


Jimi Hendrix & Curtis Knight - Happy Birthday
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Wednesday, October 12, 2011

avulso - por terras de Miranda

avulso (latim avulsus, -a, -um, separado, arrancado)
adj.
isolado, solto, desconexo, desirmanado.
Catedral de Miranda do Douro
Local - Miranda do Douro
Data - 6 Ago 2011
13bly

Tuesday, October 11, 2011

D'bandada geral

Há bandas à solta na baixa do Porto, ou pelo menos haverá na próxima noite de 15 de Outubro. Ahh! Um pequeníssimo pormenor: é de borla! Sim, é isso mesmo: 30 concertos e festarola noite dentro a custo zero. Parece bom demais para ser verdade mas não é.

A iniciativa Optimus Discos já mandou cá para fora mais de 40 EPs alguns dos quais terão certamente lugar cativo em diversos aparelhos de música digital por esse país fora. É certo que para uma minoria desses artistas - falo por exemplo dos Linda Martini, dos Coldfinger e dos Dealema - esta iniciativa não terá sido exactamente um passo preponderante para a sua carreira uma vez que, poder-se-ia dizer, que estes tinham já uma posição relativamente consolidada no panorama português. No entanto, para grande parte dos outros esta iniciativa representou uma oportunidade de valor inestimável para finalmente editar algum do seu trabalho e obter uma projecção até aí não alcançada.

No seguimento dessa filosofia de incentivo aos talentos emergentes, a Optimus traz agora uma boa parte dessas bandas às ruas (e lojas, e cafés e bares) do Porto fazendo uma espécie de showcase gigante do muito do que de melhor se faz no nosso país em termos musicais. São 20 projectos a dar 30 concertos em 13 locais da carismática baixa portuense. Os espectros sonoros vão de Noiserv aos Dealema e espaços são também diversificados com mítica e reverenciada Livraria Lello e o boémio Plano B a servir de exemplo.

Avisa-se já que não será possível ver tudo. Terão de se fazer escolhas e convém ter em conta que a lotação de muitos destes espaços é bastante reduzida mas isso é algo que irá dar mais carisma ao evento. A noite de 15 de Outubro promete ser uma noite longa mas muito recompensadora.

A não perder!

É favor de consultar a página oficial do evento para informações mais detalhadas sobre as bandas, os horários e os locais dos concertos.

13bly

Friday, October 7, 2011

Se Deus tivesse um mp3... [27]

... de certeza que esta música estaria lá!



I'm up in the woods
I'm down on my mind
I'm building a still
to slow down the time.
Bon Iver - Woods
13bly

Thursday, October 6, 2011

Tristezas não pagam dívidas

Ou pelo menos é o que se diz embora no mundo de A Canção Mais Triste do Mundo não seja bem assim. Nos anos 30, em pleno período de depressão (neste caso tanto literal como economicamente), a cidade de Winnipeg - no Canadá - foi eleita por três anos consecutivos como a cidade com mais tristeza do mundo. Lady Port-Huntley - dona de uma cervejeira - reconheceu nesse facto uma oportunidade de negócio e resolveu organizar nessa cidade uma competição para apurar qual a canção mais triste do mundo (o prémio de 25.000$ talvez permitisse pagar algumas dívidas). É esta a base da surreal história de The Saddest Music in the World - adaptada por Guy Maddin de um argumento originalmente escrito por Kazuo Ishiguro.

Tanto a história como os personagens e as relações entre eles são extremamente rebuscadas mas é isso que dá charme ao filme. Isso e a estética da época que Guy Maddin adoptou e que tão bem se adapta ao surrealismo do argumento. The Saddest Music in the World é uma espécie de comédia musical com momentos completamente delirantes e situações absolutamente bizarras. Chega-se à conclusão que, das duas uma, ou isto é produto da cabeça de um louco, ou de um génio - embora eu prefiro acreditar se trata do segundo caso os dois andam frequentemente de mãos dadas.

Representantes dos vários países deslocam-se então a Winnipeg para defender a sua bandeira em frente-a-frentes musicais. estes confrontos têm direito a relato como se de um combate de boxe se tratasse e no fim, como em qualquer torneio que se preze, os vencedores de cada round banham-se em cerveja num ritual de consagração. Apesar de a competição se fazer no palco, alguns dos concorrentes têm laços que vão para além da música. É o caso dos personagens principais - dois irmãos rivais, quase opostos um do outro desde nascença e que, neste concurso, irão representar países diferentes (os EUA e a Sérvia), já o pai deles, para tornar tudo ainda mais estranho, defenderá as cores do Canadá. A rivalidade entre os irmãos irá fazer com que este concurso mundial se centre numa batalha familiar de honra, uma prova definitiva de que um é melhor do que o outro, ficando o prémio monetário para segundo plano.

A única falha grave que tenho a apontar ao filme é não inclusão de Portugal e do fado. Essa falha torna-se ainda mais imperdoável uma vez que um dos papeis principais é desempenhado por Maria de Medeiros. Tirando este pequeno pormenor The Saddest Music in the World é um filme que aconselho vivamente a quem gostar de ver coisas diferentes, a quem não tiver medo de entrar num mundo surreal e ver as coisas pelos olhos de Guy Maddin.

13bly

Monday, October 3, 2011