Thursday, December 29, 2011

Alguns dos grandes (álbuns) de 2011 - parte 4

O Natal já lá vai e a passagem de ano está à porta. O fim do ano é período de balanço, de olhar para trás avaliar como este correu na globalidade fazendo projecções para o ano que se aproxima. Como já sei que se deixar o trabalho todo para o fim vou acabar por fazer um post sem graça como o do ano passado, desta vez comecei com antecedência e, aos pouquinhos, vou deixando uns pequenos comentários sobre os álbuns que mais companhia me fizeram em 2011 - uma espécie de flash-reviews. No final de cada um destes posts deixo ainda algumas sugestões de álbuns também de 2011 que, apesar de não lhes ter feito tanta rodagem, convém não deixar escapar em branco. Esta é a quarta parte, a última de 2011.

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SPACE IS ONLY NOISE
NICOLAS JAAR
Nicolas Jaar foi para mim uma das grandes (se não mesmo a maior) descobertas/revelações de 2011. O cardápio de Jaar já somava uma série de EPs mas só agora lançou o seu primeiro longa-duração. Neste Space is Only Noise, Jaar parece afastar-se um pouco das suas raízes house e minimal e baixar o ritmo das batidas, tornando a sua música bem mais ambiental do que dançável - comigo isso resultou que nem ginjas.

Ouvir Space is Only Noise é para mim como uma terapia. A estrutura conceptual de Être é a melhor forma de mergulhar de cabeça neste disco. Fica-se totalmente absorvido e entra-se num transe do qual é difícil de sair uma vez que as faixas se interligam de forma extremamente fluída. A mistura de sons é incrível mas mais incrível ainda é a forma como Jaar conjuga tudo sem deixar costuras à vista. As vozes distorcidas de Problems With the Sun, os sons levemente asiáticos de Too Many Kids Finding Rain in the Dust, os ecos espaciais da faixa que baptiza o disco, a guitarra sempre cortada de Variations, a sample de Ray Charles em I Got a Woman, os pequenos ruidos orgânicos que se ouvem por todo o disco...

As batidas lentas de Jaar transportam-me para um mundo interior do qual eu não quero sair e é precisamente esse o maior argumento para classificar Space is Only Noise como um dos discos do ano.

LISBOA MULATA
DEAD COMBO
Se o disco de Nicolas Jaar me transporta para algum lugar abstracto no meu subconsciente, o novo dos Dead Combo leva-me a um local bem concreto - Lisboa. E não, não é apenas sugestão por causa do título, Tó Trips e Pedro Gonçalves conseguiram mesmo, em 11 faixas, captar o que me parece ser a essência das várias facetas da cidade das sete colinas.

A viagem inicia-se nos ritmos quentes de África (Lisboa Mulata e Cachupa Man) cuja presença está tão marcada na nossa capital desde o período dos descobrimentos mas logo deita um véu de mistério sobre a cidade (Anadamastor) e começa a explora-la de lés-a-lés: dos ambientes dúbios do Cais de Sodré (Blues da Tanga) às ruas nostálgicas e com cheiro a fado de Alfama (Esse Olhar Que Era Só Teu), da cultura popular (Marchinha do Santo António Descambado) à cultura intelectual (Ouvi o Texto Muito ao Longe - com letra escrita por Sérgio Godinho e declamada por Camané).

Depois de algumas aventuras vividas com a Orquestra das Caveiras, os Dead Combo têm com Lisboa Mulata um regressar às suas origens não só geográficas (os dois músicos são lisboetas) como na forma de trabalharem só os dois recorrendo a arranjos mais simples. Foi um regressar em grande diga-se de passagem.

STRANGE MERCY
ST. VINCENT
Tal como disse na epifania, foi este Strange Mercy (mais especificamente Cruel e Surgeon) que me fez começar a gostar de St. Vincent. Esse é um mérito que nunca ninguém há-de tirar a este disco. Felizmente Strange Mercy é mais ambicioso do que isso e não se fica apenas por esse 'prémio de consolação'.

A chave deste disco parece estar em 'strange'. A forma de cantar e tocar de Annie Clark são já de si fora do vulgar sendo que neste álbum St. Vincent quase reinventou a sua arte tornando-a ainda mais... estranha (aquele "estranho-bom"). As música, essas tanto acumulam tensão e se tornam explosivas (Surgeon, Neutered Fruit) como se mantêm naquele tom de balada com melodia delicada (Champagne Year, Dilettante). Strange Mercy é por vezes orelhudo e até dançável (Cruel) mas logo cai em depressão (Cheerleader), transforma-se em rock (Northern Lights) para mais tarde fazer lembrar algum quase-synth-pop marado (Histerical Strenght). São curiosas estas discrepâncias e a forma como resultam bem em conjunto.

Apesar desta aparente mistura a coesão de Strange Mercy não fica em risco - nem o álbum perde a sua definição nem os temas a sua identidade própria. À terceira foi de vez. St. Vincent convenceu-me e concebeu um álbum digno de louvores e de destaque nas listas de 'melhores do ano'.

MENÇÕES HONROSAS
INNI
Sigur Rós
THE HEART IS A DRUM MACHINE OST
Steve Drozd
WOLFROY GOES TO TOWN
Bonnie 'Prince' Billy
13bly