Não se preparava já para actuar, ainda não. Saudou a sala e em duas linhas de simpática conversa apresentou Javiera Mena, a cantora chilena que está a acompanhar os Kings of Convenience na tour pela Península Ibérica, da qual, como Erlend fez questão de relembrar, Portugal faz parte. O seu bom humor e simpatia viriam a ser constantes ao longo da noite.
Apesar de gostar da atitude dos Kings of Convenience ao convidar Javiera Mena e dessa ajudar a divulgação da sua música, não acho que a menina tenha sido uma escolha acertada. Não que ela não se tenha portado bem. Nem se portou nem bem, nem mal, e a falha foi precisamente essa. Foi uma actuação insossa que caiu em indiferença. Serviu apenas para atrasar um pouco a subida ao palco da atracção principal e a essa sim, ninguém iria ficar indiferente.
O espectáculo viria a ser dividido em duas partes. A primeira, mais intimista, na qual Erlend Øye e Eirik Glambek Bøe tomam, sozinhos, conta do palco tocando músicas mais introspectivas (mas nem por isso isentas de momentos divertidos e bem dispostos) e a segunda parte, claramente mais festiva, com a ajuda de um violinista alemão e um contra-baixista italiano.
As músicas vão sendo intercaladas com momentos de genuíno bom humor e interacção com o público que era constantemente galardoado com piadas, histórias e perguntas. Também os artistas eram esporadicamente alvo de algumas palavrinhas ou provocações (no bom sentido) por parte do público e fizeram sempre questão de responder à letra.
Erlend era o rei da paródia e punha o público à vontade incentivando-o a participar ao passo que o sorriso de Eirik nunca, em todo o concerto, abandonou o seu rosto.
A melancolia atingiu o seu máximo com "Homesick" a brilhante música de abertura do segundo álbum da banda e foi logo seguida de "Know How" (do mesmo álbum) que teve a participação (ainda) algo tímida do público.
Os ânimos foram-se exaltando e os aplausos eram cada vez mais exuberantes sendo que sob o pretexto de "Mrs. Cold", o primeiro single do seu último trabalho, Erlend convida o público a levantar-se e a chegar-se mais perto do palco. Não foi preciso dizer duas vezes. Com sorrisos de satisfação no rosto o público acatou a sua sugestão e rapidamente se concentrava em frente do palco havendo até quem se sentasse neste.
Daí para a frente a festa estava lançada. "Mrs. Cold", "Rule My World", "Misread" e "Boat Behind" falam por si e todos dançavam descontraidamente com um sorriso genuíno face à boa disposição transmitida por estas músicas. Nesta altura já o público estava totalmente rendido e o resultado disso eram os refrões cantados em uníssono sem qualquer timidez.
Sozinho no palco Eirik interpreta o belíssimo tema de Jobim num português admirável que deixou muito boa gente de boca aberta e a sorrir ao mesmo tempo. Lá para o meio da música entra Erlend, novamente empurrado no carrinho do equipamento, acompanhando a guitarra de Eirik com as suas habilidades de trompete vocal e fazendo toda a gente rir mais uma vez.
Para terminar em chave de outro, estava guardada a ansiada "I'd Rather Dance With You" que seria acompanhada pela hilariante dança de Erlend (que pode ser vista no videoclip). Foi a festa total. Dificilmente poderia um concerto, seja ele qual for, acabar da melhor forma.
Os Kings of Convenience e os seus dois músicos acompanhantes despedem-se do público sobre uma chuva torrencial de aplausos e Erlend acrescenta que daqui a meia hora estará 'lá fora' para socializar um pouco com os fãs.
Foram muitos os que esperaram e foram também imensas a paciência e, mais uma vez, simpatia de Erlend. Parecem mesmo inesgotáveis pois ele não se limitava a dar autógrafos. Enquanto o fazia falava com as pessoas, perguntava se tinham gostado do concerto ou de onde vinham, contava histórias, ria-se e fazia rir. É uma personalidade verdadeiramente notável e passei a admira-lo por mais do que apenas a música que faz.
Foi um concerto memorável este que teve lugar em Braga, cidade que, disse-o Erlend, lhe fazia lembrar Bergen, a sua terra natal na Noruega. Os Kings of Convenience deixam o público presente no Theatro Circo a querer mais e mais fazendo assim jus ao nome do seu último álbum (Declaration of Dependence).
Voltem sempre!
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