Sunday, January 17, 2010

Douglas: Will you keep out all the sadness?

Max: I have a sadness-shield that keeps out all the sadness, and it's big enough for all of us.

Depois de tantas cambalhotas com a data da estreia, O Sítio das Coisas Selvagens deu finalmente à costa portuguesa na primeira semana de Janeiro e foi ingloriamente abafado pela Avatarmania (que tinhas estreado umas semanas antes).
A adaptação do clássico de literatura infantil de Maurice Sendak chega ao grande ecrã pelas mãos de Spike Jonze num inesperado e apelativo formato live-action.
Tem havido um certo consenso por entre as entidades de classificação de filmes pelo mundo fora ao considerar que o filme não é propriamente adequado a crianças mas, pegando nas palavras do próprio Spike Jonze, o objectivo não era fazer um filme infantil, mas sim um filme sobre infância. Depois de ver o filme, não podia concordar mais. Apesar da sua aura aparentemente divertida o filme está carregado de introspecção e até alguns momentos de melancolia que podem não cair bem a uma criança.

Ando a antecipar O Sítio das Coisas Selvagens desde Outubro de 2008 e, depois desta longa espera e do gradual crescimento das expectativas, tenho o prazer anunciar que não me senti minimamente defraudado com o resultado final.
Esta é a história de Max, um rapazinho normal que, como todas as crianças, brinca com a imaginação. Também como é normal nas crianças, quando as coisas não lhe correm de feição Max faz perrice. É no seguimento de uma dessas suas birras que, descontroladamente foge da mãe e, sem saber como, vai parar ao sítio das Coisas Selvagens.

Quando lá chega, depois de uma longa viagem de barco, Max encontra umas criaturas estranhas que, tal como ele, estavam com problemas e, entre umas mentiritas inocentes e a promessa de os manter todos unidos e felizes, torna-se o rei deles. Como será de esperar, as coisas não não vão ser assim tão simples e, após uns tempos em que tudo parece correr bem, o comboio começa a descarrilar.

Cedo se percebe que as Coisas Selvagens são, também elas, muito como crianças. As suas personalidades começam a entrar em conflito, surgem amuos e zangas e o "Rei Max", perdendo o controlo da situação, faz o seu melhor para cumprir a sua 'promessa eleitoral'.

Como podem ver, a história é simples pois, no fundo, trata-se de um conto infantil. A sua mensagem é no entanto profunda e mais direccionada para os adultos.

Antes de terminar o post, quero apenas referir três coisas sem as quais O Sítio das Coisas Selvagens não seria o filme que é:
  1. A estética: as Coisas Selvagens são incríveis, são irreais, mas ao mesmo tempo credíveis. Numa altura em que a manipulação digital é solução para tudo, optar por fatos grandes e peludos foi decisivo para dar a este filme um toque pessoal e único. Também os cenários e, principalmente a luz solar, contribuem para essa identidade própria que O Sítio das Coisas Selvagens possui pois, apesar de parecerem absolutamente reais paira sempre no ar uma confortável aura de fantasia infantil;
  2. As vozes: cada uma das Coisas Selvagens tem uma personalidade própria e, por vezes, difícil de lidar. As vozes de cada uma espelham isso mesmo e assentam nas personagens que nem luvas. De realçar a voz de James Gandolfini, não porque o seu desempenho tenha seja melhor que as restantes, mas pela estranheza que é ouvir a voz de Tony Soprano a sair de um bicho peludo daquele tamanho;
  3. A música: da autoria de Karen O. (mais conhecida como a vocalista dos Yeah Yeah Yeahs), a banda sonora funciona em perfeita sintonia com a acção e adapta-se como um camaleão às diferentes tonalidades do filme. Nos momentos agitados as músicas são aceleradas e estão carregadas de uivos e ritmos selvagens, nos momentos alegres a música transborda luz e boa disposição e nos momentos melancólicos, o espírito da música espelha exactamente a sensação de tristeza que se vê no ecrã. A verdade é que, antes de ver o filme já tinha ouvido a banda sonora e, não a tendo achado má, também não a achei particularmente fantástica, no entanto, inserindo-a no contexto do filme esta ganha outra dimensão e funciona em conjunto com as imagens como um só.
O Sítio das Coisas Selvagens não é o típico conto infantil com um final feliz (aliás, se forem sensíveis vão preparando um lencinho). É sim uma brilhante história introspectiva sobre o crescimento emocional das crianças com a qual todos os adultos podem também crescer um bocadinho.

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