Saturday, May 1, 2010

Canções para embalar tempestades* - Mazgani @ Passos Manuel

Sharyar Mazgani é um iraniano radicado em Portugal faz já longos anos. Goza de um sucesso moderado no interior do nosso país e é alvo de algum reconhecimento e projecção além-fronteiras. Ontem, subiu ao palco do Passos Manuel perante uma plateia muito despida (cerca de 40 pessoas) para apresentar o seu segundo trabalho - Songs of Distance. Apesar da fraca afluência, Mazgani não desanimou e, numa lição de profissionalismo, demonstrou o empenho que seria de esperar com sala cheia.

O concerto consistiu na quase totalidade de Songs of Distance (é difícil de dizer com precisão as músicas porque ainda não conheço bem o disco), que também inclui no seu alinhamento o EP Tell the People - editado em meados do ano passado pela iniciativa Optimus Discos.
Tendo por base o que ouvi no concerto (tenho agora o álbum para analisar com mais calma) este novo disco parece-me mais intimista do que Songs of the New Heart (2007). Mazgani amadureceu como compositor e a sua música reflecte isso mesmo.

Mazgani apresentou-se à sala de megafone em riste interpretando Thirst no papel de pregador que exorciza os espíritos maléficos do seu rebanho. Ora irrequieto, caminhando de um lado para o outro e elevando os braços fazendo lembrar Tom Waits (uma das suas influências assumidas); ora contido para imprimir o sentimento necessário à interpretação das baladas mais melancólicas, Mazgani vestiu várias peles ao longo do espectáculo.

Para além do próprio Mazgani que também empunhava uma guitarra quando a música assim o pedia, a banda era constituída por quatro elementos - duas guitarras e a base rítmica de um contrabaixo e bateria. De forma a não tornar o cenário maçador, em duas ou três músicas o concerto decorreu na forma de quarteto de cordas (com o baterista a passar para a guitarra), e numa outra apenas com as duas guitarras para além da voz de Mazgani (com o baterista e o contrabaixista a abandonar o palco).

Independentemente da presença (ou falta dela) do público, o concerto foi bastante competente, apenas merecendo um apontamento no que toca aos desconfortáveis silêncios que por vezes se faziam sentir entre as música. Esse pequeno pormenor por certo será corrigido com o decorrer da tour ou poderá ser minorado com uma massa mais calorosa de aplausos.
Chegado o final do concerto, Mazgani acedeu aos aplausos do público que pediam um encore. A banda regressou então ao palco para interpretar uma música inédita, que deverá pertencer a um eventual terceiro álbum.

Não se pode dizer que Mazgani seja um visionário que inova com sua música. O que ele faz é "apenas" encarnar o espírito do folk de raizes norte-americanas com alguns ajustes aqui e ali. Quanto à sua competência, essa já é indiscutível. Mazgani escreve canções e fá-lo bem.
Não é fácil ganhar alguma visibilidade no mundo do folk, no entanto a voz exótica de Mazgani permite-lhe alguma distinção no meio de uma legião de artistas do seu género. Espero que ele consiga efectivamente alcançar sucesso e reconhecimento pois, parece-me a mim, bem o merece.

13bly

* Título retirado do texto escrito por José Tolentino Mendonça sobre Mazgani incluído no livrete de Songs of Distance