Monday, May 10, 2010

Discos do Baú nº4

Os Pink Floyd são seguramente uma das bandas mais influentes da história da música. A sua longa caminhada começou em 1967 com o psicadelismo evidente de The Piper at the Gates of Dawn e a sonoridade da banda foi evoluindo de álbum para álbum até atingirem o sucesso comercial e reconhecimento mundial de que ainda hoje, mesmo estando cada um para seu lado, gozam.

A principal alteração profunda na banda ocorreu quase logo após o lançamento do primeiro álbum com a substituição de Syd Barret por David Gilmour. O contributo criativo (e insano) de Barret não poderia ser igualado e, apesar de ainda ter participado em A Saucerful of Secrets, a sonoridade dos Pink Floyd nunca mais foi a mesma.

THE PIPER AT THE GATES OF DAWN
Pink Floyd (1967)
Género - Rock psicadélico
Editora - Columbia/EMI
Duração - 41:52
Faixas - 11
  1. Astronomy Domine (4:12)
  2. Lucifer Sam (3:07)
  3. Matilda Mother (3:08)
  4. Flaming (2:46)
  5. Pow R. Toc H. (4:26)
  6. Take Up Thy Stethoscope and Walk (3:05)
  7. Interstellar Overdrive (9:41)
  8. The Gnome (2:13)
  9. Chapter 24 (3:42)
  10. Scarecrow (2:11)
  11. Bike (3:21)
The Piper at the Gates of Dawn é um hino ao psicadelismo. Não é propriamente o território pelo qual os Pink Floyd são actualmente reconhecidos, mas foi assim o início da sua carreira. Penso não ser exagero afirmar que, nesta fase, a grande força criativa da banda residia precisamente em Syd Barret (e no seu desequilíbrio mental) - basta ver a direcção que a banda seguiu quando liderada a meias por Roger Waters e David Gilmour após o abandono precoce de Barret.

Dificilmente se poderá catalogar alguma das faixas de The Piper at the Gates of Dawn de "convencional" - cada uma delas quebra convenções a vários níveis, desde a própria estrutural das músicas como da utilização sons improváveis em diversas faixas.
O álbum arranca com uma viagem espacial a bordo de Astronomy Domine e mais à frente essa viagem é retomada com a épica Interstellar Overdrive que nos transporta mais longe pelo espaço sideral aos locais mais recônditos do Universo. No entanto, de volta à Terra, The Piper at the Gates of Dawn apresenta-nos coisas tão "banais" como o gato de Syd Barret (Lucifer Sam) e uma mistela de contos de fadas (Matilda Mother) e com Flaming, The Gnome e Bike, Syd Barret mostra o seu lado de eterna criança conseguindo, sem nunca se desligar do psicadelismo que é fio condutor do álbum, construir músicas propositadamente simplistas e facilmente associáveis à visão algo inocente de uma criança.

O caos de Take Up Thy Stethoscope and Walk tem a assinatura de Roger Waters e a sua letra mais sombria reflecte isso mesmo. A música é um crescendo constante desde o primeiro chamamento por um médico até ao profundo sentimento de confusão e urgência que se sente mais para o final da faixa. Esta é a única faixa do disco à qual não é atribuída autoria ou co-autoria de Barret.
A universalidade deste álbum é cimentada com Pow R. Toc H., Chapter 24 e Scarecrow. A primeira é um instrumental dominado pelo piano mas condimentado com diversos jogos de voz e sons produzidos pela boca (brincadeira que os Floyd viriam a repetir em Ummagumma ao imitar animais) e nas outras duas, respectivamente, Barret pisca o olho aos métodos de adivinhação chinesa e deixa-se levar por dúvidas existenciais comparando-se a um espantalho.

The Piper at the Gates of Dawn talvez seja mais Syd Barret do que Pink Floyd mas é um álbum incontornável da longa carreira dessa banda mítica. Não só por ter sido o primeiro passo de uma longa caminhada mas principalmente por ser um excelente legado musical que viria (e continuará) a influenciar e inspirar inúmeras gerações de músicos e não-músicos pelo mundo fora.

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