Saturday, May 29, 2010

Gary Numan @ Casa das Artes de V.N. de Famalicão (28/05/10)

Considerado por muitos como um dos pioneiro da música electrónica, Gary Numan é uma espécie de legado histórico que ficou dos 80. Sem ele não teríamos hoje Depeche Mode ou Massive Attack e influência da música de Numan é absolutamente inegável em bandas como os Nine Inch Nails ou Marilyn Manson. O seu sucesso não se restringe, no entanto, a um nicho fechado. Músicos como Beck, Tricky, Damon Albarn ou Jarvis Cocker assumiram a sua admiração por Gary Numan e as suas músicas, num claro exemplo de transversalidade, foram já utilizadas por nomes tão fora do seu 'círculo musical' como Afrika Bambaataa ou Sugababes.
Foi uma sala meio-despida que recebeu ontem Gary Numan na Casa das Artes de Famalicão. A média de idades dessa meia-sala era, compreensivelmente, bastante adiantada - constituída essencialmente por pessoas que, sem dúvida terão vivido os tempos áureos de Numan e dançado ao som das suas músicas em inúmeras ocasiões da sua juventude. É uma pena que o concerto tenha passado ao lado de tanta gente e a lotação ter-se apresentado tão baixa.
Pessoalmente, tenho de confessar não ter "feito os trabalhos de casa" para este concerto (ou mesmo para esta pequena crítica) visto não conhecer quase nada do longo espólio musical de Numan. Sim, a Cars é um hino incontornável dos anos 80 mas, para além disso, pouco ou nada mais sabia. Foi portanto com grande surpresa que recebi a actuação de Numan.

O tom da música de Numan é sombrio, em relação a isso não haveriam dúvidas, no entanto a densidade do som debitado em palco ultrapassou largamente o que esperava. Pelo que pude apurar, ao longo da carreira, a sonoridade de Gary Numan foi-se afastando sucessivamente daquele new-wave/synthpop que hoje consideramos como "típico dos anos 80" para fazer uma aproximação a um rock industrial bastante agressivo. Deparado com essa realidade em palco, apercebo-me que as influências a Nine Inch Nails não funcionaram num só sentido e, por diversas vezes durante o concerto, poderia ter jurado que estar a ouvir a banda de Trent Reznor.
Achei a primeira metade do concerto demasiadamente pesada, talvez por não ser uma sonoridade com que me identifique pessoalmente ou, simplesmente, por não conhecer o percurso de Numan estar à espera de tamanha intensidade. No entanto, a partir de Down in the Park (sensivelmente a meio) o tom abrandou ligeiramente e consegui então desfrutar mais do espectáculo. Esse terá sido para mim o momento alto do concerto a par de Are Friends Electric?.

Não foi um concerto que me tenha enchido as medidas mas dificilmente alguém pode afirmar que Numan não cumpriu exemplarmente o seu dever. Com 52 anos de idade e 34 de carreira, Gary Numan está em forma e recomenda-se - talvez não tenha o mesmo vigor de outros tempos, mas é ainda um testemunho vivo do que de bom se fazia nos anos 80.

13bly