- Rick Deckard in Do Androids Dream of Electric Sheep? (1968)
Um filme não substitui um livro e um livro não substitui um filme - são meios diferentes com linguagens distintas. Ainda assim, na maior parte dos casos, não consigo deixar de comparar os dois.
A adaptação é quase sempre feita no sentido de livro para filme e importa referir que nem sempre é fácil adaptar histórias ao grande ecrã dada a curta duração de um filme (quando comparado com o tempo investido num livro). Só por estes motivos já compreendo que tenham de ser feitas cedências o problema é quando essas cedências são infelizes e acabam por não fazer justiça à obra que lhe deu origem.
Embora esta seja talvez a situação mais frequente, há casos em que o filme se mantém fiel à obra original assumindo algumas cedências aceitáveis para melhor encaixar a história neste seu novo formato. Falo, por exemplo, de filmes como a trilogia d'O Senhor dos Anéis ou a Parte I da saga d'O Padrinho. Mais raros ainda são os casos em que, dando-lhe um toque pessoal, o filme transcende a obra original (não necessariamente para melhor ou para pior, mas sim para 'diferente'). Kubrick era exímio nesta matéria e tanto A Clockwork Orange como The Shinning são brilhantes exemplos disso.
Acabei há dias de ler Do Androids Dream of Electric Sheep? - a obra de Philip K. Dick que deu origem a Blade Runner, o famoso clássico do cinema de ficção científica assinado por Ridley Scott. Blade Runner foi o primeiro de muitos filmes de ficção científica baseados no extenso legado de Philip K. Dick (Total Recall, A Scanner Darkly, Minority Report e Next são alguns dos filmes que se seguiram mas importa recordar que o autor faleceu cerca de 4 meses antes da estreia de Blade Runner não tendo chegado a ver nenhum deles).
No caso concreto de Blade Runner a palavra 'baseado' utilizada em cima é mesmo a palavra certa. Afinal, apercebo-me ao ler o livro, para além de alguns conceitos base (os andróides e o caçador de prémios), o filme pouco tem em comum com a obra que lhe deu origem. Não se trata portanto de uma adaptação em si mas sim de uma história totalmente distinta na qual não entram uma série de elementos da obra original (a esposa de Rick Deckard, a presença/ausência e importância dos animais, as caixas de empatia, a adoração a Mercer, o programa de TV e rádio do Amigável Buster etc.). Outra das diferenças entre as duas obras (esta talvez ainda mais gritante se esquecermos o 'pequeníssimo pormenor' de a história apenas ser tangencialmente comparável) é a existência (no romance) de uma segunda linha de narração a decorrer em paralelo com a de Deckard. Essa história 'secundária' é centrada em J.R. Isidore um solitário miserável com um QI bem abaixo da média - este segundo protagonista e a sua história são totalmente omitidos no filme.
A verdade é que o filme e o livro são obras tão distintas que nem parece justo estar a estabelecer este tipo de comparações ou a enumerar as suas diferenças. Do Androids Dream of Electric Sheep? é um romance com conceitos bastante interessantes tanto a nível tecnológico como da emoção humana e do que distingue afinal o Homem da Máquina mas, apesar disso, não pude deixar de me sentir desiludido ao lê-lo. Talvez o filme me tenha elevado demasiado as expectativas, não digo que não mas quase apetece dizer que, neste caso, o filme foi melhor que o livro. Na verdade só não vou tão longe porque a comparação é neste caso mesmo descabida mas uma coisa digo sem medos: se esta minha leitura serviu para alguma coisa foi para aumentar a minha admiração e fascínio por Blade Runner e não pela obra de Philip K. Dick.
A adaptação é quase sempre feita no sentido de livro para filme e importa referir que nem sempre é fácil adaptar histórias ao grande ecrã dada a curta duração de um filme (quando comparado com o tempo investido num livro). Só por estes motivos já compreendo que tenham de ser feitas cedências o problema é quando essas cedências são infelizes e acabam por não fazer justiça à obra que lhe deu origem.
Embora esta seja talvez a situação mais frequente, há casos em que o filme se mantém fiel à obra original assumindo algumas cedências aceitáveis para melhor encaixar a história neste seu novo formato. Falo, por exemplo, de filmes como a trilogia d'O Senhor dos Anéis ou a Parte I da saga d'O Padrinho. Mais raros ainda são os casos em que, dando-lhe um toque pessoal, o filme transcende a obra original (não necessariamente para melhor ou para pior, mas sim para 'diferente'). Kubrick era exímio nesta matéria e tanto A Clockwork Orange como The Shinning são brilhantes exemplos disso.
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No caso concreto de Blade Runner a palavra 'baseado' utilizada em cima é mesmo a palavra certa. Afinal, apercebo-me ao ler o livro, para além de alguns conceitos base (os andróides e o caçador de prémios), o filme pouco tem em comum com a obra que lhe deu origem. Não se trata portanto de uma adaptação em si mas sim de uma história totalmente distinta na qual não entram uma série de elementos da obra original (a esposa de Rick Deckard, a presença/ausência e importância dos animais, as caixas de empatia, a adoração a Mercer, o programa de TV e rádio do Amigável Buster etc.). Outra das diferenças entre as duas obras (esta talvez ainda mais gritante se esquecermos o 'pequeníssimo pormenor' de a história apenas ser tangencialmente comparável) é a existência (no romance) de uma segunda linha de narração a decorrer em paralelo com a de Deckard. Essa história 'secundária' é centrada em J.R. Isidore um solitário miserável com um QI bem abaixo da média - este segundo protagonista e a sua história são totalmente omitidos no filme.
A verdade é que o filme e o livro são obras tão distintas que nem parece justo estar a estabelecer este tipo de comparações ou a enumerar as suas diferenças. Do Androids Dream of Electric Sheep? é um romance com conceitos bastante interessantes tanto a nível tecnológico como da emoção humana e do que distingue afinal o Homem da Máquina mas, apesar disso, não pude deixar de me sentir desiludido ao lê-lo. Talvez o filme me tenha elevado demasiado as expectativas, não digo que não mas quase apetece dizer que, neste caso, o filme foi melhor que o livro. Na verdade só não vou tão longe porque a comparação é neste caso mesmo descabida mas uma coisa digo sem medos: se esta minha leitura serviu para alguma coisa foi para aumentar a minha admiração e fascínio por Blade Runner e não pela obra de Philip K. Dick.
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