Wednesday, February 16, 2011

Música do século passado (mas bem presente) - Belle Chase Hotel @ Teatro Municipal de Vila do Conde (12/02/11)


Depois de tantos anos de rumores acerca de possíveis reuniões que não deram em nada já me tinha conformado com o facto de que nunca iria ter a oportunidade de ver os Belle Chase Hotel em palco. Estava enganado - no final do ano passado reuniram-se para um concerto em Coimbra que rapidamente esgotou e passados uns tempos anunciou-se um segundo concerto, desta vez em Vila do Conde. Era uma oportunidade demasiado perfeita para deixar escapar, até porque talvez surjam mais espectáculos (diz-se por aí que sim), mas talvez não.

Apesar do eterno carimbo de 'promessas', considero os Belle Chase Hotel como (sim, atrevo-me a dizê-lo) banda histórica que, com as suas fusões improváveis, trouxeram uma lufada de ar fresco à música portuguesa no final da década de 90. São muitas vezes injustamente esquecidos e eclipsados por outras bandas que conseguiram reunir um culto mais fiel - não haverá maior prova desse esquecimento do que o facto de a sala do Teatro Municipal de Vila do Conde não ter esgotado para os receber.
Dizem as 'regras da boa crítica' que estas devem ser isentas e objectivas. Se em condições normais já sou incapaz de ser 'bom crítico', menos ainda o sou quando quem está em questão são os Belle Chase Hotel. Mesmo pondo de lado as habituais etiquetas relativas à nacionalidade de projectos musicais, os Belle Chase Hotel são um dos meus favoritos. Não sei ao certo explicar o que me atrai na sua música e porque motivo mexe tanto comigo mas é um facto que são especiais para mim e, como consequência, este concerto também o foi. Não vou então fingir que estou aqui a fazer uma crítica imparcial porque, claramente, não serei capaz disso.

Depois de, há semanas, ter visto JP Simões a solo, foi bom confirmar que, como 'líder' dos Belle Chase Hotel ele se mantém igual a si mesmo. Algo tímido no início do concerto, não tardou a por-se mais à vontade e, sempre recorrendo a ironias, começar a disparar eloquentes piadas e conselhos em diversas direcções. Chegou mesmo a soltar a sua veia teatral ao interpretar vocal e fisicamente algumas músicas (como no dueto com Raquel Ralha na conflituosa Scorpions in Love).

A música dos Belle Chase é uma mescla de inspirações com cheirinhos dos vários cantos do mundo. Desta forma, a noite de Sábado foi prodigiosa em viagens tão facilmente se vivia a bohéme parisienne como se respirava a tropicalidade do Brasil. Talvez tenha sido dos fusos horários mas, no meio de tanta viagem, o tempo passou demasiado depressa e, sem dar por ela, chegou ao fim o espectáculo (e não espetáculo como disse JP no seu habitual tom irónico).


Os Belle Chase Hotel são: Antoine Pimentel,Filipa Cortesão,JP Simões,João Baptista,Luís Pedro,Marco Henriques,Pedro Renato e Raquel Ralha.

Já disse que sou suspeito para falar e que portanto esta 'crítica' vale o que vale mas a verdade é que tudo me soou muitíssimo bem na noite de Sábado. Desde a linha de baixo mágica de Emotion & Style à intimidade do piano e da voz de JP Simões em Living Room sem esquecer a irónica e divertida Sunset Boulevard ou a magnífica Fossanova que, por incrível que pareça soa ainda mais limpa e tropical ao vivo . Sign of the Crimes fechou em grande uma noite única que irei guardar para sempre na memória, afinal este pode muito bem ter sido um concerto de uma vida!

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