Thursday, June 9, 2011

Curso avançado de como agitar as águas


Quando se atira uma pedra ao charco nada é mais certo do que a água agitar-se. B Fachada sabe isso tão bem como qualquer outra pessoa mas nem por isso se inibe de mandar a tal pedra. E que grande pedrada que foi desta vez! B Fachada saberia com toda a certeza que este seu 'disco de Verão' iria ser polémico, que poderia ser mal recebido e até mal interpretado por muitos.

Tudo em Deus, Pátria e Família soa a provocação e digo mesmo tudo... a começar no título - evocativo da grande máxima de Salazar - e a acabar na letra - que tem versos algo chocantes - com passagem pelos sons dos animais no início e com menções honrosas para a própria duração da faixa e para a artwork da capa.


Já tem corrido alguma tinta digital acerca deste assunto mas, até ao momento, ainda não li opinião mais concisa e acertada esta de Davide Vasconcelos do Disco Digital (parte do portal Diário Digital):
Anunciado como um «disco de Verão», «Deus, Pátria e Família» em nada se assemelha com o irmão mais velho um ano «Há Festa na Moradia». Desde logo porque não se trata de um álbum mas antes de uma aparente soma de excertos, agrupados num acto vagamente protestante que é muito mais do que uma singular canção.

O tom festivo que adoptou na temporada anterior é substituído por um depoimento conceptual em que a linguagem vernacular contribui para reforçar o que B Fachada pretende: criar ruído, chocar, como se de uma conferência de imprensa de José Mourinho se tratasse. Tratar «Deus, Pátria e Família» como um ataque ao país é cego, surdo e absurdo.

Como poderia ser essa a interpretação se B Fachada é um dos músicos que melhor trata a língua? Se há um protesto implícito, ele dirige-se à recente obsessão em valorizar tudo o que é português, independentemente de se tratar do título de Melhor Treinador do Mundo ou simplesmente do 14º lugar na lista de Melhor Prato de Carne Guisada do Guia de Restaurantes do Nepal.


Daí o «eu não sei português e que se foda Portugal, eu canto em fachadês, a minha língua paternal». B Fachada escreveu o seu «FMI», trinta e dois anos depois de José Mário Branco ter escrito uma «canção» que o sistema monetário internacional agora obrigou a recuperar. «Portugal está para acabar» mas enquanto houver Bernardo vale a pena acreditar.
É isto. Está tudo dito!

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