Wednesday, April 30, 2008

"Queima das Fitas do Porto 2008" ou "Onde é que eu já vi este filme?"

Tem lugar na próxima semana a Queima das Fitas do Porto. Mais uma vez não posso deixar de sentir um certo deja-vu duplo. Um ao olhar para o cartaz e outro ao escrever este post.


Apesar de alguma melhoria em relação ao cartaz do ano passado, que foi na minha opinião o pior que já vi, a FAP não me convence. Gostava de saber quem são as mentes brilhantes por detrás da contratação das bandas para este evento académico e depois gostava que fossem castigadas.

Vou-me citar a mim mesmo no post que escrevi no ano passado porque não me apetece repetir-me:

«Nota-se, mais uma vez, falta de coragem por parte da FAP em apostar em nomes novos, entregando-nos todos os anos um cartaz quase igual ao do ano anterior com os tradicionais Xutos, Quim Barreiros, Rui Veloso, Pedro Abrunhosa, The Gift, Da Weasel etc... são sempre as mesmas caras, sempre as mesmas músicas, sempre a mesma coisa!!

Tudo bem que serão bons grupos (é discutível) e que até podem proporcionar um bom espectáculo, mas acho que podiam tentar inovar um bocado.

Tantas boas bandas andam por aí à espera de oportunidades ou em início de carreira e nós levamos sempre com os mesmos dinossauros! Contratar estas bandas muito provavelmente saía mais barato, tornava o cartaz mais variado e inovador, fazia propaganda a novas bandas portuguesas (ao invés de não fazer nada de especial a estas que já estão consolidadas) e mais tarde quando essas bandas se tornassem famosas podiam-se gabar de terem ajudado a lança-las ou de já as ter tido no cartaz. Assim vão-se gabar de que?! "Já tivemos os Xutos 50 vezes na Queima!!" em vez de fazerem uma lista grande de nomes vai ser uma lista curta mas com o número de vezes que eles lá tiveram à frente!

Talvez alguns nomes menos conhecidos não apelassem tanto ao público em geral, mas, repito, uma queima (para a comunidade académica) não é feita de um cartaz e poucos são os que vão à queima só por causa da banda X ou Y. Isso pode acontecer com pessoal "de fora" que vai pra lá curtir os concertos, mas que eu saiba aquilo é um festival académico, feito por pessoal académico para pessoal académico portanto esses nem fazem assim tanta falta lá (por vezes até estragam ambiente).

Se calhar o dinheiro que poupavam ao contratar bandas menos famosas (e nem por isso piores) chegava bem para cobrir os bilhetes que não vendiam ao pessoal que vem de fora, mas isto sou eu a falar que não tenho conhecimento de números e sou um perfeito leigo.»


Algumas coisas mudaram. É notável, por exemplo, a ausência do Pedro Abrunhosa, do Rui Veloso ou dos The Gift, mas temos mais uma vez os Xutos, o Jorge Palma, os Blasted, o David Fonseca, os Da Weasel... Se em relação a alguns destes nomes se pode argumentar que são bons artistas ou que têm novos trabalhos ou até que se reinventaram e estão na ribalta outros nem isso e, mesmo esses, não deixam de ser repetidos...

Comparando com o ano passado sai Patrice, entra Gentleman, estamos praticamente na mesma.
Temos também a verdadeira nojice que é Sean Kingston e que não consigo compreender como o foram buscar. Equiparo-o aos D'ZRT do ano passado, pode ser que este também leve com pedras. É preciso não esquecer os Irmãos Verdade, a banda de merda importada (que normalmente vem do Brasil ou dos países africanos) que nunca pode faltar. Com tanta coisa boa cá é preciso ir buscar mau lá fora? Mau por mau, que venha mau nacional.

Mas nem tudo é mau. A FAP finalmente lembrou-se dos Wraygunn (agora que estão mais do que consolidados no panorama musical) se bem que... a abrir para Xutos?! Haja paciência...
Depois temos os Trabalhadores do Comércio que regressaram ao activo e, como grande marco da cidade do Porto, não podiam faltar à festa.

Quero também comentar o regresso do Quim Barreiros. E devo dizer que não o comento com muito agrado.
Em Coimbra, onde há mais tradição e o espírito académico é vivido com mais paixão, não estavam dispostos a pagar a exorbitante quantia pedida por ele. Tiveram de vir os nossos "inteligentes" da FAP, que nadam em dinheiro, contratá-lo para mais uma "noite pimba". E voltamos aquela questão do dinheiro e de se poder trazer outras bandas mais baratas, blá blá blá...
Qualquer uma daquelas bandinhas que só cantam músicas de outros grupos em festas de aldeia faziam o papel dele. Para cantar para bêbedos qualquer coisa serve, haja vontade de nos divertirmos.

É particularmente mais doloroso este ano ver alguns dos cartazes de outras festas académicas que apostam em bandas menos conhecidas e com bastante mais qualidade.

Veja-se por exemplo:
  • No Algarve há nomes como Kumpania Algazarra e Sean Riley & The Slow Riders, Bunnyranch. Sim, também tem muita merda, mas têm alguns pelos quais eu trocava todo o restante cartaz do Porto;
  • Em Braga há o Gabriel, o Pensador e há inclusivamente um dia que é Linda Martini + James;
  • Para os lados de Évora há um dia invejável: X-Wife + Vicious Five;
  • Até a Lisboa os Kumpania Algazarra vão.
X-Wife, Vicious Five, Kumpania Algazarra, Bunnyranch são tudo bandas que esperava ver no Porto este ano e que acho que encaixam perfeitamente numa queima. Já Linda Martini e James não me parecem tão adequados a estes ambientes, mas são excelentes nomes para um cartaz.

Claro que ao realçar estes nomes entro bastante com o meu gosto pessoal e, se por um lado não quero cair no egoísmo de querer um cartaz feito à minha medida, por outro não vejo necessidade de constantemente se tirar fotocópias aos cartazes dos anos anteriores. Assim não se vai a lado nenhum.


13bly

Saturday, April 26, 2008

Cemitério de Pianos

"à procura, procura do vento. Porque a minha vontade tem o tamanho de uma lei da terra. Porque a minha força determina a passagem do tempo. Eu quero. Eu sou capaz de lançar um grito sobre mim, que arranca as árvores pelas raízes, que explode veias em todos os corpos, que trespassa o mundo. Eu sou capaz de correr através desse grito, à sua velocidade, contra tudo o que se lança para deter-me, contra tudo o que se levanta no meu caminho, contra mim próprio. Eu quero. Eu sou capaz de expulsar o sol da minha pele, de vencê-lo mais uma vez e sempre. Porque a minha vontade me regenera, faz-me nascer, renascer. Porque a minha força é imortal."

- José Luís Peixoto
in
«Cemitério de Pianos»



José Luís Peixoto é sem sombra de dúvidas um dos grande autores portugueses da actualidade com obras publicadas em vários outros países.

O Cemitério de Pianos é um livro que adorei e pelo qual tenho especial afecto por motivos alheios à obra em si. Nesta obra, é-nos narrada na primeira pessoa a história de uma família ao longo de várias gerações. São dois os narradores e os tempos de história, e aparecem frequentemente misturados e alternados. Isso, que por vezes é um pouco confuso, é também estimulante e obriga a uma maior atenção à leitura e consequentemente maior envolvimento com os personagens.

Sem entrar em grandes pormenores, neste livro a morte é tema central, a morte irremediável como destino da vida, mas não é abordada de forma necessáriamente fatalista, mas antes como uma forma de continuação da vida em quem fica.

Aqui, e imagino que seja normal nele, José Luís Peixoto esquece todas as regras do "bem escrever" e a sua escrita dinâmica com um elevado sentido de estética recorre a tudo o que poder para intensificar ou melhor transmiti angústias e outras sensações ou ideias ao leitor. Desde pontuação "mal colocada", repetições, aliterações, enumerações, frases que não terminam e passam para o parágrafo seguinte e frases que não começam e vêm do parágrafo anterior.

Dito desta forma é capaz de soar apenas estranho e não cativante, mas a verdade é que o Cemitério de Pianos é fascinante e é um excelente trabalho de um autor que planeio explorar melhor.


13bly

Thursday, April 17, 2008

Tim Burton - Voodoo Girl

O génio de Tim Burton a abrir a secção de poesia deste blog.

O seu estilo de poesia é de uma simplicidade quase infantil, sendo todas as personagens, como é sua característica, bizarras. Na sua estranheza, as personagens, devido às suas características exageradas, personificam defeitos, atitudes ou sentimentos humanos.


Voodoo Girl

picture

Her skin is white cloth,
and she's all sewn apart
and she has many colored pins
sticking out of her heart.

She has many different zombies
who are deeply in her trance.
She even has a zombie
who was originally from France.

picture

But she knows she has a curse on her,
a curse she cannot win.
For if someone gets
too close to her,

the pins stick farther in.

picture

- Ilustrações e poema por: Tim Burton


13bly