Saturday, April 26, 2008

Cemitério de Pianos

"à procura, procura do vento. Porque a minha vontade tem o tamanho de uma lei da terra. Porque a minha força determina a passagem do tempo. Eu quero. Eu sou capaz de lançar um grito sobre mim, que arranca as árvores pelas raízes, que explode veias em todos os corpos, que trespassa o mundo. Eu sou capaz de correr através desse grito, à sua velocidade, contra tudo o que se lança para deter-me, contra tudo o que se levanta no meu caminho, contra mim próprio. Eu quero. Eu sou capaz de expulsar o sol da minha pele, de vencê-lo mais uma vez e sempre. Porque a minha vontade me regenera, faz-me nascer, renascer. Porque a minha força é imortal."

- José Luís Peixoto
in
«Cemitério de Pianos»



José Luís Peixoto é sem sombra de dúvidas um dos grande autores portugueses da actualidade com obras publicadas em vários outros países.

O Cemitério de Pianos é um livro que adorei e pelo qual tenho especial afecto por motivos alheios à obra em si. Nesta obra, é-nos narrada na primeira pessoa a história de uma família ao longo de várias gerações. São dois os narradores e os tempos de história, e aparecem frequentemente misturados e alternados. Isso, que por vezes é um pouco confuso, é também estimulante e obriga a uma maior atenção à leitura e consequentemente maior envolvimento com os personagens.

Sem entrar em grandes pormenores, neste livro a morte é tema central, a morte irremediável como destino da vida, mas não é abordada de forma necessáriamente fatalista, mas antes como uma forma de continuação da vida em quem fica.

Aqui, e imagino que seja normal nele, José Luís Peixoto esquece todas as regras do "bem escrever" e a sua escrita dinâmica com um elevado sentido de estética recorre a tudo o que poder para intensificar ou melhor transmiti angústias e outras sensações ou ideias ao leitor. Desde pontuação "mal colocada", repetições, aliterações, enumerações, frases que não terminam e passam para o parágrafo seguinte e frases que não começam e vêm do parágrafo anterior.

Dito desta forma é capaz de soar apenas estranho e não cativante, mas a verdade é que o Cemitério de Pianos é fascinante e é um excelente trabalho de um autor que planeio explorar melhor.


13bly

1 comment:

S.A. said...

ja conhecia o autor, mas tomei especial atenção depois de a BM me dar a ler "Explicação da Eternidade" que ta la no blog...ele tem uma escrita e um sentido da palavra simplesmente fenomenal e encantador

Sarinha