Tuesday, September 29, 2009

"De trás prá frente" ou "Inevitabilidade"

inevitabilidade
(forma alatinada de inevitável + -dade)

s. f.,
1. Qualidade do que não pode ser evitado;
2. Facto ou situação que não se pode evitar.
Vi ontem o primeiro episódio de Flashforward, a nova série da abc que está a ser apelidada de "a próxima Lost". A série é baseada num romance com o mesmo nome e o conceito em si não é inteiramente original, mas penso que poderá agarrar o público.

O que se passa é que, certo dia, todo o mundo desmaia durante 2 minutos e 17 segundos e isso causa obviamente milhares de acidentes que provocam um número incontável de vítimas (aviões que caem, acidentes de viação, doentes que estão a ser operados etc.). Durante esse intervalo de tempo, as pessoas desmaiadas vivem memórias de coisas que apenas iriam acontecer daí a 6 meses.

Heroes
tentou essa mecânica de ver o futuro e, na minha opinião, fracassou redondamente destruindo assim uma primeira season que tinha potencial para ter sido bastante boa (nem vou falar do que aconteceu daí para a frente), pelo que ainda olho para Flashforward com alguma desconfiança e cepticismo.
Pelo menos, contrariamente a Heroes, as visões de Flashforward não são cataclísmicas mas sim cenas do quotidiano. Há uma personagem que se vê grávida (quando nem sequer tem namorado), outra que se vê com um homem que não o seu marido (e ela nem sequer o reconhece), outro não vê absolutamente nada ficando a pensar que daí a 6 meses estará morto... Há visões boas e visões más e portanto personagens que torcem para que o 'futuro' que viram seja verdadeiro e outros que desejam profundamente que a visão não se concretize.

Resta então saber se as visões serão inevitáveis e toda a luta dos personagens fútil ou se haverá efectivamente possibilidade de modificar o que vai acontecer.
Vou esperar pelos próximos episódios antes de tirar uma conclusão.
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Se em Flashforward a inevitabilidade ainda é uma incógnita, o mesmo não acontece com Irréversible e Memento, dois filmes que são literalmente contados de trás para a frente e que, curiosamente, nunca referi no blog (mesmo tendo gostado dos dois).

Aproveito então a oportunidade para falar um pouco sobre eles. O primeiro é do realizador francês Gaspar Noé e conta com as extraordinárias prestações de Monica Belucci e Vincent Cassel e o segundo é do, agora realizador famoso, Christopher Nolan.

Em ambos os filmes a inevitabilidade é total uma vez que a primeira coisa que o espectador vê é o desenlace da história sendo revelados sucessivamente e a partir daí os momentos que antecederam esse acontecimento na ordem cronologicamente inversa.
O espectador acaba por conformar-se pois sabe o que vai acontecer mas nem por isso os filmes perdem o interesse, transformando-se numa espécie de puzzle do qual já conhecemos o desenho na caixa mas nem por isso deixamos de o tentar montar.

Apesar da estrutura dos filmes ser semelhante e de ambos se tratarem de uma busca por vingança, muita coisa há que os afasta um do outro.
Desde logo Irréversible é mais realista chegando mesmo a ser brutal enquanto que Memento é mais rebuscado na sua história. Isso faz com que a ameaça do primeiro seja mais palpável e verdadeiramente perturbadora. Sem querer revelar muito, arriscar-me-ia a dizer ainda que Irréversible é muito mais difícil de ver, tanto pela realização (que eu achei fabulosa) como pelo conteúdo propriamente dito ao passo que Memento é consideravelmente mais leve. É no entanto também mais vago na sua história (e não digo 'vago' com sentido pejorativo) deixando alguns factos para o espectador interpretar como achar mais adequado.

Não vou revelar mais nada sobre os dois filmes apenas que aconselho vivamente perder umas horinhas a ver os dois. Quanto a Flashforward, gostei do episódio piloto, mas não quero tirar conclusões precipitadas portanto, é esperar para ver.

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