Thursday, September 17, 2009

"A time of marvels"

Já alguma vez se questionaram como seria viver num mundo com super-heróis? Concerteza que já sonharam com algo do género, mas pensaram bem nas implicações disso? E não, não me refiro a um mundo romantizado como nas bandas desenhadas onde os super-heróis são a melhor coisa desde a invenção da roda e do fogo. Falo no mundo real, o 'nosso mundo' na sua forma mais crua.

Como seria se aparecesse um homem capaz de voar naturalmente ou deitasse gelo pelas mãos ou fosse mais rápido do que o som? Qual seria a reacção da humanidade face a um ser capaz de feitos sobre-humanos? A palavra é mesmo essa, 'sobre-humano'. E dizer sobre-humano é o mesmo que dizer acima do ser humano, ou seja, melhor do que o Homem.


Foi nisto que pensou Kurt Busiek quando se escreveu Marvels, a minha mais recente leitura no universo das graphic-novels.

Marvels passa-se num período entre 1940 a 1970 e nela aparecem heróis bem nossos conhecidos como o Homem-Aranha, o Quarteto Fantástico, os Vingadores ou os X-Men, no entanto o personagem principal é uma espécie de 'Zé Ninguém'. É através dos olhos de Phil Seldon, fotógrafo freelancer, que vemos a reacção da humanidade face ao aparecimento destes seres fantásticos.

Contrariamente aquela que seria a nossa expectativa, num mundo real, a recepção a um super-herói deste calibre não será feita com aplausos. Penso que a reacção mais lógica, e se virmos bem é compreensível, será a de desconfiança, de medo, de insegurança. Afinal, de um momento para o outro a Humanidade passa a ser obsoleta. Agora há seres superiores com poderes inimagináveis.

Passada a primeira fase de suspeição, o ser Humano em geral conforma-se e volta a encontrar conforto. Claro que haverá sempre excepções, mas assim é a natureza humana. Apenas a título de exemplo não há ainda quem defenda os princípios nazis ou quem ache que os negros são inferiores? Não acham que surgiriam movimentos do género face a esta 'nova raça'?
Tudo o que hoje temos no que toca a preconceito e racismo surgiria também contra os super-poderosos.

Mas não falemos apenas de segregação. Pensem também no impacto mediático que o aparecimento de super-poderes poderia ter. Iria haver com certeza quem os idolatrasse como celebridades. Entrevistas, sessões fotográficas, festas, capas de revista nada ficaria de fora desta onda de deslumbre.

Só mais uma pergunta. Será que o Homem lhes ficaria grato por 'eles' salvarem o mundo vezes e vezes sem conta? Ou será que essa gratidão se iria desvanecer assim que o perigo iminente fosse esquecido dando lugar a um sem número de teorias de conspiração?

Num mundo idealizado de banda desenhada tudo parece encaixar bem, mas quando pensamos bem na situação talvez um super-herói nos fosse trazer mais dores de cabeça do que esperança.

Numa história de heróis, normalmente falamos no lado humano quando o herói está perturbado e se debate com problemas pessoais, dúvidas, sentimentos ou hesitações, mas neste caso 'o lado humano' ganha outra dimensão.
É precisamente aí que reside a genialidade de Marvels.

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