Thursday, September 10, 2009

"What was it? A meteorite? A visit of inhabitants of the cosmic abyss?"


Stalker é o título em inglês (em português, se não disparatassem muito seria algo como 'O Guia') deste filme russo de 1979. Realizado por Andrei Tarkovsky, Stalker foi projectado no Fantasporto em 1983 e conta a história de um guia que leva duas pessoas a um local chamado 'A Zona'.

O filme dá a entender que A Zona será um local algo sobrenatural onde terá caído um meteorito ou aterrado uma nave espacial. Esta área encontra-se selada pelos militares pois nela existe uma sala que, alegadamente, realiza os desejos mais profundos de quem lá entra. Nada disto vem no entanto a ser confirmado ou desmentido pois o filme trata o assunto como uma questão de crença.

O personagem principal que dá nome ao filme.

A crença é aliás o fulcro do filme. A crença e a esperança. Stalker é extremamente subtil na narração da história dos três personagens que se aventuram n'A Zona e sinto que não tenho capacidade para descrever. Sorrio-me enquanto escrevo isto mas, durante o filme, 'não acontece nada', no entanto, tal como os personagens, o espectador fica a acreditar que poderia ter acontecido. Devem estar a pensar que sou tolinho, mas não consigo dizê-lo de melhor forma.

O filme acaba e tudo fica por esclarecer, nenhum mistério é resolvido e não se chega a nenhuma conclusão acerca d'A Zona, mas não era esse o objectivo do filme. Stalker não é um filme para contar uma história, é sim uma viagem psicológica que, apesar de parecer parada nos deixa agarrados ao ecrã.



Os três personagens principais (Stalker, Professor e Writer) e um cão que encontram n'A Zona.

Há três coisas que sobressaem neste filme e que me impressionaram bem mais do que o normal. São elas os efeitos sonoros, a fotografia e a forma como foi filmado. Não sou grande entendido nestas matérias técnicas, mas até a um leigo como eu elas pareceram fascinantes.

Os diálogos são bastante esparsos e talvez por isso os restantes efeitos sonoros se destaquem. Ao longo do filme somos envolvidos pelos sons de comboios a passar ou pelos passos ora em locais de vegetação intensa ora urbanos ou até pelo ruído de água a correr ou a cair... Qualquer ruído, por mais insignificante que seja, é intensificado e o espectador fica atento a isso. Poucos foram os filmes que me impressionaram tão profundamente com a sua sonoplastia não musical.

A fotografia foi outra das artes que me deixou boquiaberto, arriscar-me-ia a dizer que se pausasse o filme num momento aleatório essa imagem seria uma autêntica obra prima. As paisagens e os cenários estão muitíssimo bem captados assim como a iluminação que os banha e que cria a envolvência necessária a cada cena.

Quanto à realização, Andrei Tarkovsky serve-se de longos planos e lentos movimentos de câmara, ignorando completamente a 'convenção' dos cortes rápidos. Segundo o wikipedia, os planos têm a duração média de um minuto chegando a haver vários que ultrapassam os quatro. É certo que isso pode desanimar alguns potenciais espectadores pois o filme vai-lhes parecer (e bem) muito parado, mas por outro sinto que se não fosse assim, e dado o conteúdo do filme, a mensagem não seria tão bem transmitida.

Outro pormenor interessante é o facto de as cenas que se passam fora d'A Zona estarem filmadas num tom sépia com um contraste muito elevado enquanto a parte da acção dentro d'A Zona tem, geralmente, um colorido bastante forte.


O forte contraste entre A Zona e o 'exterior'.

Stalker não é um filme fácil de se ver e não será para qualquer um, no entanto, para aqueles que se acham capazes de apreciar o cinema como arte será uma experiência única. Posso estar a exagerar quando digo isto mas, para mim e comparando com tudo o que já vi até hoje, Stalker é uma obra sem igual!


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