Saturday, January 22, 2011

One-man band & Cia. - The Legendary Tigerman @ Coliseu do Porto (21/01/11)


Os concertos de Paulo Furtado têm sempre o seu quê de imprevisível esteja ele a partilhar o palco com os companheiros dos Wraygunn ou perfeitamente sozinho como Legendary Tigerman. A noite de ontem fundiu um pouco estes dois concertos e quem subiu ao palco foi o Legendary Tigerma, sim senhor, mas num formato one-man band algo dissimulado no meio de tantos e tão bons convidados.

O reconhecimento mediático atingido com Femina (o seu último trabalho) permitiu a Paulo Furtado preparar este concerto especialíssimo. Agarrando esta oportunidade com força o Homem Tigre fez o que sabe fazer melhor e, muito bem acompanhado, praticamente esgotou os dois Coliseus conquistando o público do Porto (em Lisboa o concerto é mais logo) com um espectáculo único.
Depois de um curto prelúdio a cargo da simpática mas tímida Rita Braga chega a hora do prato principal da noite. Paulo Furtado sobe sozinho para o palco munido apenas de uma guitarra e agradece a todos por 'fazerem um homem muito feliz'. Inicía então ao concerto com My Stomach is the Most Violent of All Italy num dueto virtual (em vídeo) com a (muito) sensual e (muito) provocante Asia Argento (uma das suas principais cúmplices em Femina). Daí para a frente o concerto nunca se repetiu e foi um desfilar de convidados alternados com algumas músicas a solo.

Para além das já referidas vozes de Paulo Furtado e (em gravação) de Asia Argento, ouviu-se ao longo do concerto a poderosa voz de Lisa Kekaula (dos The BellRays), a sussurrada e sedutora voz de Clauda Efe (dos Micro Audio Waves) e ainda a doçura de Rita Redshoes. Mas o rol de convidados não fica por aqui. Nesta noite especial pisaram ainda o palco do Coliseu os Dead Combo (Tó Trips e Pedro Gonçalves), Jim Diamond (que produziu dois álbuns dos The White Stripes) e Mick Collins (membro fundador dos Gories, uma influência assumida de Paulo Furtado), João Doce (percussionista dos Wraygunn) e também os DJs de hip-hop Ride e Nel'Assassin. Para o encore, Paulo Furtado guardou mais uma surpresa e chamou para o palco Sérgio Correia, Pedro Pinto, Francisco Correia, Selma Uamusse, Raquel Ralha e novamente João Doce (ou seja, toda a formação dos Wraygunn). Juntos interpretaram She's a Go Go Dancer e uma música nova que constará do seu próximo disco. Diga-se de passagem que estão em forma e recomendam-se.


A retrospectiva da carreira de Legendary Tigerman aconteceu mesmo como anunciado - de Naked Blues (2002) a Femina (2009) (se bem que, assim de repente, penso que não houve lá nada de Fuck Christmas, I've Got the Blues). E o mais interessante de tudo é que grande parte das músicas receberam um tratamento especial para celebrar esta noite especial dando origem a um espectáculo verdadeiramente único.

Quantas mais vezes vou poder ver, no mesmo palco Legendary Tigerman com os Dead Combo e Rita Redshoes a interpretar Lonesome Town (original de Baker Knight)? E quantas vezes terei a oportunidade de ouvir a Jockey Full of Bourbon (de Tom Waits) cantada por Lisa Kekaula e acompanhada por Rita Redshoes na bateria? Ou Honey You're Too Much cantada a meias pelo Homem Tigre e pela Claudia Efe, ou o próprio Legendary Tigerman a acompanhar os Dead Combo em Lusitânia Playboys? E aquela versão alongada de Say Hey Hey com João Doce na bateria e os DJs Nel'Assassin e Ride a rasgar no scratch e nas samples Provavelmente são coisas que provavelmente não se irão repetir (tirando talvez no concerto de logo em Lisboa).

A primeira parte do concerto, depois de muitas emoções, terminou em apoteose (com os já referidos Ride, Nel'Assassin e João Doce a acompanhar o protagonista da noite) e o primeiro encore foi a habitual festa dos Wraygunn. Apesar destes dois momentos indiscutivelmente altos, foi num clima intimista que Paulo Furtado optou por encerrar definitivamente o espectáculo. Chegou então ao fim o concerto com The Legendary Tigerman novamente sozinho em palco a interpretar uma música que diz ser uma das suas favoritas - a arrepiante True Love Will Find You in the End de Daniel Johnston (que por coincidência, ou talvez não, é também a faixa de encerramento de Femina).

O espectáculo de ontem foi quase o que o próprio nome do artista indica - lendário. Estas duas noites ficarão com certeza para a história que nem o próprio Paulo Furtado nem quem assistiu aos concertos irá esquecer tão cedo.

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