Sunday, March 13, 2011

Dois em um: à rasca


Hoje não vai haver mixtape porque não me apetece e porque vou deixar uma palavrinha sobre a manifestação de ontem. Não fui à manifestação de 12 de Março embora apoiasse (e apoie) as suas causas. É certo que esta demonstração de descontentamento não vai resolver nenhum dos problemas contra os quais pretende protestar - penso que todos estão cientes disso - mas é preciso bater na mesa, importa chamar à atenção e dizer que existimos e que chega de brincar com o nosso futuro.

Ao pensar nesta manifestação, tirando as óbvias canções de intervenção portuguesas (desde os clássicos de Zeca Afonso ao sucesso recenta dos Deolinda passando pelos menos convencionais Homens da Luta) lembrei-me de outras duas coisas:

#1 NETWORK

Já em tempos partilhei aqui uma recriação do famoso discurso de Howard Beale em Network (1976) mas é perfeito demais para não repetir. O rosto cansado de Peter Finch (que venceu o Oscar com este papel) e a revolta que parece realmente sentir à flor da pele espelham os sentimentos de muita gente por este país fora. Sentimentos esses que, como um grito da janela, ecoaram ontem pelas ruas das nossas cidades.

#2 MIS-SHAPES

Este hino dos Pulp, com a letra que tem, poderia perfeitamente ser o hino desta manifestação. É que tudo bate certo. É o retrato de uma geração que, ao contrário das outras que lhe antecederam e que eram habitualmente baptizadas por terceiros, se autodenominou por "Geração à Rasca". Uma geração com poucas perspectivas de futuro apesar do seu elevado grau de formação, uma geração que - muitas vezes - paga para trabalhar, uma geração que se vê enxovalhada por um Primeiro Ministro que não respeita ninguém...
Mis-Shapes fala de tudo isso e sinto-me muito satisfeito por, também no que à violência diz respeito, o refrão tenha sido levado à letra. Ao não cometer os excessos típicos de 'malta nova aos magotes' os manifestantes honraram realmente a educação que dizem ter.

Versa assim esta Mis-Shapes:
Mis-shapes, mistakes, misfits,
we'd like to go to town but we can't risk it
Oh 'cause they just want to keep us out.
You could end up with a smack in the mouth
just for standing out. Oh really.

Brothers, sisters, can't you see?
The future's owned by you and me.
There won't be fighting in the street.
They think they've got us beat, but revenge is going to be so sweet.


We're making a move, we're making it now,
we're coming out of the side-lines.
Just put your hands up - it's a raid yeah!
We want your homes, we want your lives,
we want the things you won't allow us.
We won't use guns, we won't use bombs
We'll use the one thing we've got more of - that's our minds.

Check your lucky numbers,
that much money could drag you under, oh.
What's the point of being rich
if you can't think what to do with it?
'Cause you're so bleeding thick.
Oh we weren't supposed to be,
we learnt too much at school now we can't help but see.
That the future that you've got mapped out is nothing much to shout about.


Ontem também foi dia de Fast Forward. Para citar a juri Luísa Sequeira (Fotograma e Shortcutz): no dia em que a geração à rasca saiu à rua, esta também conseguiu provar que se desenrasca e consegue ser criativa. Talvez amanhã ponha aqui alguma coisa em relação a isso.

13bly