Saturday, March 17, 2012

PA' • Dirty Three - Toward the Low Sun




Sete anos depois, os Dirty Three mostram que ainda sabem desenhar discos de beleza nostálgica e pura.

Vindos de Melbourne, no outro lado do planeta, os Dirty Three são autênticos escultores de paisagens sonoras e emocionais. Cada álbum que deitam cá para fora funciona como uma espécie de guia Michelin que direcciona o leitor para os melhores miradouros do mundo com vistas de suster a respiração.

Pores-do-sol acolhedores e céus estrelados sobre terrenos estéreis são alguns dos cenários abundam no imaginário dos Dirty Three e, em particular, neste Toward the Low Sun. Sete anos depois da discreta aproximação à pop que foi Cinder (2005), este álbum marca o regresso ao estúdio do trio australiano e marca também um novo afastamento dessa estrutura de canção mais convencional.

O caos turbulento com que Furnace Skies abre o disco não poderia tornar mais evidente essa libertação estrutural. Nela só o violino de Warren Ellis parece chorar com nostalgia enquanto Mick Turner e Jim White (na guitarra e bateria, respectivamente) exorcizam o passado recente com um sentimento de urgência. Mas nem só de tempestade vive Toward the Low Sun.

Depois do esconjuro inicial, as coisas abrandam de ritmo e tornam-se menos avassaladoras e mais introspectivas. É com as bonitas melodias de Moon On The Land, The Pier e Ashen Snow que os Dirty Three provam que nestes sete anos de ‘inactividade’ não desaprenderam a sua arte, nem perderam aquela identidade que é tão deles.

Em tempos idos, alguém disse que música tanto é o som produzido por instrumentos, como o silêncio entre as notas musicais. Os Dirty Three acreditam nessa filosofia e prova disso é Rain Song que, qual peça frágil de porcelana, qual bonsai melindrosa, é de uma delicadeza tal que quase sussurra um pedido de autorização para se fazer ouvir. Como contrapeso para toda essa suavidade (e, curiosamente, logo de seguida no alinhamento), Toward the Low Sun apresenta a intensidade de That Was Was, um dos melhores temas do disco, que parece saída directamente de Zuma (1975) – um dos (muitos) grandes álbuns de Neil Young – e que deixa a claro a influência do músico canadiano sobre o trio.

Embora não possuam a emoção galopante de Horse Stories (1996) ou o embalo profundamente meditativo de Ocean Songs (1998), as paisagens de Towards the Low Sun são ainda assim belíssimas e merecem (e devem) ser contempladas com devoção vezes e vezes sem conta.

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