Wednesday, June 20, 2012

Optimus Primavera Sound 2012 - Dia 3 (09/06/2012)


Fotografias 1,3 e 4 © Hugo Lima | Fotografia 2 © Canal 180

O dia 3 do Primavera foi assombrado por uma série de coisas que, conjugadas, resultaram quase num pesadelo para muito boa gente. O primeiro desses factores foi sem dúvida a chuva que, caindo insistentemente durante toda a tarde, gerou uma autêntica corrida aos impermeáveis e deixou, mesmo assim, todos encharcados. Essa chuva tornou o segundo factor desta minha 'lista' ainda mais insuportável - falo das cerca de quatro horas de fila para levantar bilhetes para os concertos de Domingo. Esta situação é, a meu ver, ridícula e testou verdadeiramente a paciência (e resistência) dos festivaleiros. Por fim, como se a derrota futebolística de Portugal frente à Alemanha não fosse suficiente, este dia ficou ainda marcado por alguns cancelamentos de última hora.

Os primeiros a subir ao palco neste dia invernoso foram os Gala Drop que, para além de trazerem na bagagem um disco (ainda fresco) em colaboração com o mago da guitarra que é Ben Chasny, juntaram recentemente ao seu plantel o talento percursionista de Jerrald James. Muito prejudicados pelo tempo e pela já referida fila, foram poucos os corajosos que enfrentaram a intempérie para se deixar levar pelos seus ritmos hipnóticos e psicadélicos. Mereciam melhor sorte, estes rapazes.

Depois do concerto dos lisboetas procurei algum refugio na tenda do palco Club onde iriam actuar os Veronica Falls - uma banda indie como muitas outras que, não fosse a chuva, não teria captado a minha atenção. Na verdade, nem com a promessa de abrigo estes britânicos me conseguiram segurar ali muito tempo e logo preferi enfrentar a chuva e ir até ao ATP espreitar os Siskiyou. Esta foi uma das melhores decisões do dia pois os canadianos (também muito prejudicados pelo tempo) estavam a dar um concerto bem interessante que tive pena de não apanhar do início. Não cometeria o mesmo erro com os Spiritualized, nem pensar! Ainda o concerto não tinha começado e já eu me posicionava de frente ao palco procurando o melhor lugar para 'flutuar no espaço' embalado pela maravilhosa mistura rock-gospel-psicadélico-cósmica da banda de Jason Pierce - o impermeável seria o meu fato de astronauta.

Apesar da chuva, Pierce não deixou de envergar os seus habituais óculos de sol. Como se isso não bastasse, a mente por trás dos Spiritualized (e o único membro permanente do colectivo) teve ainda o atrevimento de incluir Lord Let It Rain On Me (de Amazing Grace - o álbum de 2003) no alinhamento - no mínimo irónico. Neste concerto que pareceu demasiado curto (mas que na verdade teve a duração prevista) apenas se ouviram dois temas de Sweet Heart Sweet Light, o último trabalho da banda (a eléctrica Hey Jane e a delicada Mary). Não se focando demasiado num só disco, Pierce passou em revista uma boa parte do seu palmarés - desde os tempos dos Spacemen 3 até ao sucesso estrondoso de Soul on Fire (incluída em Songs in A & E de 2008). De fora não podia ficar o clássico Ladies and Gentlemen We Are Floating in Space (1997) que a banda revisitou com o incrível tema homónimo e com Come Together a encerrar brilhantemente um espectáculo memorável.

Com o palco Optimus a meter água, os Right Ons tiveram de se encolher e actuar num cantinho e os Death Cab for Cutie viriam a cancelar o seu espectáculo. Apesar de lamentável (e a meu ver, evitável), este contratempo não afectou os meus planos pois não nutro particular simpatia pela banda norte-americana e já planeava jantar durante a sua actuação. Por coincidência, também a essa hora, a actuação de James Ferraro viria a ser cancelada por este se encontrar em paradeiro incerto, pelo que, dos 4 palcos disponíveis, apenas o ATP estava em funcionamento - sorte, apesar de tudo, dos I Break Horses, a única banda a actuar. Ironicamente, depois do mal feito, a chuva parou de cair ainda no início da actuação dos Afghan Whigs - concerto que fui assistir com intenção ir ver The Weeknd mas que, surpreendentemente, não consegui abandonar. Os veteranos conseguiram conquistar-me com o carisma e poder da sua prestação em palco e, fascinado com o que via, fiquei até ao final perante (mais) uma das surpresas deste festival.

Generalizadamente, os Kings of Convenience eram um dos nomes mais aguardados do festival. Esta simpática dupla da terra do bacalhau caiu no goto dos portugueses (e vice-versa) pelo que são sempre recebidos com bastante entusiasmo e devolvem esse entusiasmo com espectáculos maravilhosos. Apesar disso, já me tenho cruzado com eles algumas vezes (há dois anos no Theatro Circo e no ano passado em Paredes de Coura) e ainda por cima a sua actuação coincidia com a dos enormes Dirty Three - uma das bandas que me deixou mais radiante quando foi confirmada. Nem hesitei e deixei para trás os pacíficos noruegueses para enfrentar os três demónios australianos e vê-los a espalhar o caos no palco ATP. Num dos concertos mais possantes a que já assisti, Warren Ellis, Mick Turner e Jim White tomaram de assalto o festival e, com a sua música introspectiva e intensa, levaram-me a viajar por paisagens ermas sob céus estrelados. Foi bonito demais para palavras!



Passar de uns extasiantes Dirty Three para uns monocórdicos The XX revelou-se uma transição demasiado brusca para mim. Depois do violino possuído de Warren Ellis as melodias minimalistas dos sofisticados londrinos não têm como não soar aborrecidas. Confesso que nem me importaria de os ver numa sala de ambiente pacato mas, em recinto aberto e logo depois dos Dirty Three, não obrigado. Certamente que milhares de pessoas discordarão do que acabei de dizer mas, resignado com essa diferença de opiniões (visível no entusiasmo do público), saí do recinto pela última vez. No dia seguinte o Primavera abandonaria o verdejante cenário rural do Parque da Cidade e abraçaria a sofisticação do betão amarelado da Casa da Música (ou .

13bly

Edit: Faltou referir Washed Out entre Dirty Three e The XX. Deu para o bailarico mas, como agora fica claro, caiu um bocado no esquecimento.