A minha colaboração com o
Ponto Alternativo chegou este mês ao fim. Colaborei com o
PA' durante cerca de 2 anos e meio e graças ao
PA' conheci pessoas, músicas e artistas incríveis, estive em posições privilegiadas em inúmeros eventos, vi dezenas de concertos, aprendi, cresci e saí melhor pessoa do que entrei. O
PA' vai mudar o seu rumo editorial num sentido que é e sempre foi o seu espaço mais natural - o das sonoridades pesadas. Sabendo que o meu contributo nessa área seria diminuto e que o tempo e paciência que tenho para dedicar ao projecto é cada vez menor despedimo-nos respeitosamente um do outro. A colaboração chegou ao fim mas o amor pela música não. A colaboração chegou ao fim mas o
PA' continua e está muito bem entregue.
O texto abaixo foi o último que escrevi para o
PA'. Não chegou a ser publicado mas, uma vez que lhe dediquei algum tempo e esforço, decidi publica-lo eu em vez de simplesmente o apagar do disco. Para além disso foi o pretexto perfeito para este miserável textinho de despedida.
Para onde foi a raging zef boner dos Die Antwoord?
É difícil não olhar para os Die Antwoord como seres alienígenas encalhados na Terra com uma extrema dificuldade em camuflar-se entre os humanos. Não há nada de discreto em Ninja, Yolandi Visser e DJ Hi-Tek mas em vez de se tentarem esconder, os três abraçaram a sua excentricidade (visual e musical) fazendo desta uma das suas maiores valias. Apesar desta entrada algo dramática importa referir que essa sua “diferença” não existe por acaso e que tem origem numa corrente (contra) cultural – Zef – que embora pareça, não é originária doutro planeta mas sim do berço multi-cultural e multi-étnico que é a África do Sul.
Embora, geograficamente se possam localizar os Die Antwoord na Cidade do Cabo, fazer o mesmo para a sua música não é uma tarefa fácil. A dupla agarra na tal corrente zef – tão única ao seu país – e mistura-a com tudo a que consegue deitar as mãos criando aquele estilo hip-hop-techno-rave que reconhecemos como deles. Seja recorrendo a trechos de animações nipónicas ou a inesperadas passagens pelos "Selected Ambient Works" de Aphex Twin, os Die Antwoord derrubam todas barreiras sendo o melhor exemplo disso a apropriação que fizeram de “Pitbull Terrier” – talvez a maior malha deste disco. Nessa faixa, Ninja, Yolandi e DJ Hi-Tek pegam na canção que Kusturica criou para musicar o seu clássico “Gato Preto, Gato Branco” e retiram-lhe tudo o que esta tem de balcânico vestindo-a com a tal “roupagem zef”. Esta troca cultural faz particular sentido porque, bem vistas as coisas, tanto os Die Antwoord como o cineasta (cada um à sua maneira, claro) se prestam ao mesmo papel – o de dar visibilidade a uma cultura “alternativa” que surge quase caricaturizada aos olhos/ouvidos do seu público.
Os dois trabalhos anteriores dos Die Antwoord, apesar dos enormes temas que os redimem, são também algo inconsistentes mas este “Donker Mag” parece não passar a linha de água vezes suficientes. Os vários e inconsequentes interlúdios quebram incompreensivelmente o ritmo num disco que já de si tem demasiadas más canções para ser ouvido de ponta a ponta. "Raging Zef Boner" soa a uma má piada que não pode ser levada a sério (talvez isso explique o riso forçado de Yolandi em "Pompie" - o interlúdio que se segue no alinhamento) e "Struk" - uma espécia de balada quase terna que nunca imaginaríamos os Die Antwoord a fazer - em vez de conferir versatilidade ao disco apenas o torna mais aborrecido. Esperava-se mais agressividade de um disco que até começa com uma ameaça mas, se excluirmos a já referida "Pitbull Terrier", "Happy Go Sucky Fucky" e um ou outro tema menos relevante, não se encontra em "Donker Mag" aquela intensidade de que gostamos nos Die Antwoord.
Em 2014 continua a não haver uma banda como eles mas a verdade é que os Die Antwoord também já não são novidade. Ninguém duvida que, em palco, continuem a ser absolutamente explosivos e a dar um espectáculo memorável mas "Donker Mag" soa demasiado morno para não dizer mesmo frouxo. Para onde foi a raging zef boner?
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