Friday, November 28, 2008

Firaga - a minha visão

Firaga

Ardem, rubras, como olhos de paixão,
como sangue que esvai na imensa verticalidade.
O corpo em tecidos rasgados, doentes membranas
descompassadas da febril mentalidade
num sofrer, morrendo, de ilusão.

E instintos vêm, em consciencialização,
que vermelhos rosais em olhos meus crepitam.
As lágrimas líquidas no limiar explodindo,
estagnado na petrificação dos sentidos que agitam
a alma, desprovida de qualquer emoção.
um poema de Helder Magalhães

Vou levar a cabo neste post a difícil tarefa de analisar e interpretar este poema da autoria do meu querido amigo Helder Magalhães. O autor (e etc.) talvez não concorde com esta visão, mas é a imagem que me é transmitida por estas palavras.

Para mim este poema relata o culminar de uma ilusão. Um rapaz, sem nutrir por uma rapariga qualquer tipo de sentimento enganou-a de forma a tirar-lhe aquilo que ela guardava de mais precioso, a sua virgindade. As duas estrofes apresentam uma espécie de paralelismo, expondo duas visões de um mesmo momento.

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  • Primeira estrofe. A Rapariga:

O poema começa por demonstrar, no primeiro verso, o estado de timidez e até, quem sabe, de uma certa vergonha por parte da Rapariga relativamente ao que acabou de fazer. Essa sensação e até alguma exaustão física estão bem espelhados no rubor do seu rosto.
A comparação com os olhos foi inevitavelmente estabelecida pois tamanha é a paixão (e a ilusão) que a rapariga sente pelo Rapaz e que a leva a entregar-se a ele.
O segundo verso vai mais além e descreve aquele que é, normalmente, o sinal mais visível e característico da perda da virgindade, o sangue. Note-se o uso da expressão "imensa verticalidade" (um eufemismo para "erecção") quando se refere por onde o sangue se está a esvair.
O verso seguinte continua a ideia e refere-se à penetração e ao rompimento do hímen , uma película dérmica presente na entrada da vagina que rompe frequentemente na primeira penetração e que dá origem ao fluxo de sangue mencionado no verso anterior.

Não contente com isso o autor vai mais longe, descrevendo algumas sensações de confusão e de descoordenação motora referindo-se às "doentes membranas descompassadas de febril mentalidade" talvez referindo-se a contracções involuntárias de músculos indiciando, quem sabe, um orgasmo.

Este lado da história termina, no último verso com a constatação de sofrimento causado não só pela dor física (causada pela perda da virgindade e rompimento do hímen) mas também, inconscientemente, pela ilusão na qual vive ao entregar-se totalmente ao Rapaz.

  • Segunda estrofe. O Rapaz:

Esta estrofe é mais simples de analisar, isso deve-se talvez à pouca complexidade de emoções sentidas pelo Rapaz ou pela pouca importância que tem para ele esta relação.

"E instintos vêm (...)" são as primeiras palavras deste conjunto de versos. Refere-se claramente ao orgasmo masculino e à ejaculação (referida na gíria como "vir-se"). Quase chegado o momento do orgasmo, o Rapaz está consciente que está a enganar a Rapariga, mas não consegue pensar em mais nada, apenas vê os "vermelhos rosais", ou seja, o rosto corado dela.

Chega por fim o orgasmo e com ele a ejaculação, ilustrado por "As lágrimas largadas no limiar explodindo". O Rapaz pára "estagnado na petrificação", ainda perdido nas sensações de prazer que tomaram conta dele ("(...) sentidos que agitam/ a alma (...)").

Esta estrofe acaba tal como a primeira, com a constatação do engano e da inexistência de sentimentos do Rapaz pela Rapariga. "(...) desprovida de qualquer emoção.")

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E assim se conclui que o Rapaz se aproveitou da inocência da Rapariga e abusou, não só do seu corpo, como também dos seus sentimentos.
Penso que a análise está bastante clara e inequívoca, mas aceito sugestões e interpretações alternativas.

13bly

5 comments:

Unknown said...

DIFAMAÇÃO!!!

BLASFÉMIA!!!

HERESIA!!!



Leiam antes o meu blogue!!!


abraço, etc.
Helder

Renato_Seara said...

Bem, este poema e revelador da personalidade do seu autor?!?DOENTIO!!!!:)

Manel s. Azevedo said...

O estilo clássico exposto no poema pelo caro Helder magalhães, é de uma interpretação muito dramática, caracterizadora desse mesmo estilo.Estilo muito caracterizador das vidas levadas pelos seus autores, não fosse estilo clássico, vejo neste poema.. o desabafo e a melancolia de uma semana passada.. em plena meditação e penetração espiritual caracteristico de almas ligadas a estas artes..
Acho o poema uma primasia e algo fenomenal.. e, Discordo plenamente com a análise feita neste blog, num aspecto muito simples mas que te escapou...
Não é uma ela, e um ele...é um ele e um ele(poeta)...

João Ruivo said...

Helder Magalhães:
é uma honra receber o comentário do autor de tamanha obra poética.

Lamento imenso que a minha interpretação não vá de encontro com a tua, mas deixei bem claro que esta análise não é absoluta tratando-se apenas da MINHA visão do peoma.

Renato Seara:
Fazer o quê?! :P

Manuel Azevedo:
A minha análise foi isenta de qualquer conhecimento do autor.
Há quem defenda que é importante o enquadramento da vida do autor bem como o enquadramento sócio-cultural.

Se entrasse com o meu conhecimento do autor talvez a interpretação pudesse ser diferente, mas para uma pessoa que tenha agora o primeiro contacto com esta mente perturbada parece-me ser a interpretação mais sensata.

Pedro C. Reis said...

mas que badalhoquice, como foste pensar numa coisa dessas?:p

para mim, esse poema, não passa duma análise semanal do índice PSI-20! ;)