Imaginem que, num mundo alternativo, há centenas de anos atrás, em Inglaterra a magia abundava. Agora imaginem que por algum motivo essa magia desapareceu dando lugar, século após século, a um estudo teórico da mesma como um qualquer ramo da Filosofia ou da História.
Jonathan Strange e o Sr. Norrell são dois magos com personalidades bastante diferentes que estão destinados por uma profecia a restaurar a magia a Inglaterra. Mas desenganem-se se estão à espera de uma aventura épica cliché de histórias de fantasia. Susanna Clarke -a autora- transcende as barreiras dos géneros literários aproximando esta obra de fantasia, de certa forma, a um romance de época à la Jane Austen.
As personagens são ricas e variadas. Não lhes ficamos indiferentes, inspiram verdadeiramente emoções. Inconscientemente damos por nós irritados com as atitudes do asqueroso Drawlight ou de certa forma satisfeitos com a persistência de Vinculus e com a individualidade de Childermass. Sentimo-nos impotentes face à situação de Stephen Black e de Lady Pole e ficamos com alguma pena pelos cavalheiros da Sociedade de Magos de York (nomeadamente o pobre Sr. Honeyfoot).
É fácil simpatizarmos com Strange e não nos sentirmos tão confiantes no que toca ao Sr. Norrell, mas nenhum dos dois é "o bom" nem "o mau". Eles antagonizam-se , é certo, mas ambos têm atitudes louváveis e condenáveis. Neste romance, como na vida, nada é completamente negro, nem completamente branco (exceptuando a capa). Há toda uma paleta de cinzentos no permeio e isso deixa-nos frequentemente divididos, sem saber por quem 'torcer'.
'Jonathan Strange & o Sr. Norrell' não se limita a caracterizar toda uma sociedade britânica de século XIX, apresenta também um impressionante pano de fundo para a História da Magia Inglesa carregado de simbolismo e mitologia. Notas de rodapé que ocupam páginas inteiras deliciam o leitor com pequenos pormenores que demonstram a verdadeira riqueza desta obra.
Estou a acabar de ler pela segunda vez (são cerca de 730 páginas) e posso afirmar que gostei dele ainda mais do que na primeira leitura. É impressionante o detalhe que Susanna Clarke coloca nesta história, é impressionante a forma como apela aos nossos sentidos e é impressionante a discrição com que retrata a magia como se fosse a coisa mais natural do mundo.
'Jonathan Strange & o Sr. Norrell' é das obras literárias mais fascinantes que li até hoje.
Fico a aguardar (com grande ansiedade diga-se de passagem) a edição em Portugal de uma colectânea de short-stories baseadas neste universo (The Ladies of Grace Adieu) e a sequela que, segundo a autora, se irá centrar em dois personagens já conhecidos e que terá lugar alguns anos depois do original.
13bly
Jonathan Strange e o Sr. Norrell são dois magos com personalidades bastante diferentes que estão destinados por uma profecia a restaurar a magia a Inglaterra. Mas desenganem-se se estão à espera de uma aventura épica cliché de histórias de fantasia. Susanna Clarke -a autora- transcende as barreiras dos géneros literários aproximando esta obra de fantasia, de certa forma, a um romance de época à la Jane Austen.
«É possível um mago matar um homem por magia?» perguntou Lord Wellington a Strange. Este franziu o sobrolho, pareceu não gostar da pergunta. «Suponho que um mago o poderia fazer», admitiu, «mas um cavalheiro nunca o faria.»
As personagens são ricas e variadas. Não lhes ficamos indiferentes, inspiram verdadeiramente emoções. Inconscientemente damos por nós irritados com as atitudes do asqueroso Drawlight ou de certa forma satisfeitos com a persistência de Vinculus e com a individualidade de Childermass. Sentimo-nos impotentes face à situação de Stephen Black e de Lady Pole e ficamos com alguma pena pelos cavalheiros da Sociedade de Magos de York (nomeadamente o pobre Sr. Honeyfoot).
É fácil simpatizarmos com Strange e não nos sentirmos tão confiantes no que toca ao Sr. Norrell, mas nenhum dos dois é "o bom" nem "o mau". Eles antagonizam-se , é certo, mas ambos têm atitudes louváveis e condenáveis. Neste romance, como na vida, nada é completamente negro, nem completamente branco (exceptuando a capa). Há toda uma paleta de cinzentos no permeio e isso deixa-nos frequentemente divididos, sem saber por quem 'torcer'.
'Jonathan Strange & o Sr. Norrell' não se limita a caracterizar toda uma sociedade britânica de século XIX, apresenta também um impressionante pano de fundo para a História da Magia Inglesa carregado de simbolismo e mitologia. Notas de rodapé que ocupam páginas inteiras deliciam o leitor com pequenos pormenores que demonstram a verdadeira riqueza desta obra.
Estou a acabar de ler pela segunda vez (são cerca de 730 páginas) e posso afirmar que gostei dele ainda mais do que na primeira leitura. É impressionante o detalhe que Susanna Clarke coloca nesta história, é impressionante a forma como apela aos nossos sentidos e é impressionante a discrição com que retrata a magia como se fosse a coisa mais natural do mundo.
'Jonathan Strange & o Sr. Norrell' é das obras literárias mais fascinantes que li até hoje.
Fico a aguardar (com grande ansiedade diga-se de passagem) a edição em Portugal de uma colectânea de short-stories baseadas neste universo (The Ladies of Grace Adieu) e a sequela que, segundo a autora, se irá centrar em dois personagens já conhecidos e que terá lugar alguns anos depois do original.
13bly
7 comments:
Fico a aguardar (com grande ansiedade diga-se de passagem) a edição em Portugal de uma colectânea de short-stories baseadas neste universo (The Ladies of Grace Adieu) e a sequela que, segundo a autora, se irá centrar em dois personagens já conhecidos e que terá lugar alguns anos depois do original.
E claro que me vais emprestar este também :P
Parece interessante... Quando tiver tempo talvez.. Mais um para a lista!
@Yamada Tarō: Enquanto não me emprestares o Historiador, ninguém te empresta nenhum livro!!
Deixaste me com imensa vontade de ler! Adoro as tuas críticas :)
JÁ comprei :D
Ena, inspiro assim tanta confiança? ^^
lol, vai masé vender livros pah!
Por acaso não acho muita piada a livros de fantasia.. mas é interessante a forma como tu dizes que a autora se desvia da matéria principal do livro, que é a fantasia, para dar lugar a um romance histórico.
Inspiras :) e eu adoro ler e adoro fantasia :)
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