Monday, July 4, 2011

Quem o viu e quem o vê - Foge Foge Bandido @ Casa da Artes (02-07-2011)


Manel Cruz é um dos nomes mais incontornáveis na história da música contemporânea portuguesa. Foge Foge Bandido é o seu último projecto e O Amor Dá-me Tesão/Não Fui Eu Que Estraguei - o álbum duplo que lançou em 2008 - é sem dúvida uma das obras musicais mais singulares do nosso panorama musical. Poucas vezes um músico abriu a sua alma de uma forma tão íntima e pessoal como Manel Cruz o fez com este trabalho.

Foge Foge Bandido é o valioso fruto de uma mente irrequieta e uma verdadeira obra de autor. Apesar de tudo isto, os espectáculos a que tinha assistido ficavam sempre aquém que seria de esperar.



Em Santa Maria da Feira, logo após o lançamento do disco, assisti cheio de expectativas ao primeiro concerto deste projecto - levei um grande banho de água fria. Este é um projecto difícil de transpor para o palco e se há coisa que ficou clara nesse concerto foi que o espectáculo ainda não estava pronto para ser apresentado. Uns meses mais tarde, em Paredes de Coura e já sem grandes expectativas, assisti a um novo concerto. Dessa vez já a máquina tinha sofrido algumas afinações - a banda acolheu mais elementos e o alinhamento sofreu algumas mudanças. Resultado - o espectáculo foi mais coerente mas ainda assim nada de excepcional.

Dizem que à terceira é de vez e, fazendo fé na sabedoria popular decidi dar ao bandido a tal terceira oportunidade para me convencer ao vivo. Terceira e última, diga-se de passagem - estes são os últimos concertos que Manel Cruz irá dar como Foge Foge Bandido.


Num espectáculo que ultrapassou a barreira das duas horas e que teve direito a dois encores o tempo chegou para tudo: de beincadeiras a capella a experimentalismos desvairados e um pequeno improviso, de rockalhadas à antiga até às baladas fatalistas, de Manel Cruz no papel de crooner a Manel Cruz como pastor baptista...

É perfeitamente natural que, com o passar do tempo e depois muito experimentar, as coisas vão melhorando. Ainda assim a diferença abismal deste concerto quando comparado com os outros que havia visto foi uma surpresa. Tudo mudou! Muito mais à vontade em palco e com boa disposição q.b., Manel Cruz e os seus companheiros visitaram quase todos os momentos de O Amor Dá-me Tesão/Não Fui Eu Que Estraguei que valia a pena visitar. As samples quase desapareceram dando origem a sons tocados ao vivo (até gravações de voz foram declamadas); as músicas levam uma roupagem mais rock (que surpresa aquela versão de Borboleta); perdem muito do experimentalismo que se viu em demasia nos primeiros espectáculos e, em vez de parecerem perdidos e ultra-concentrados ou a 'fazer frete', os músicos divertem-se realmente em palco. Em suma foi tudo melhor, muito melhor! E isso fazia-se sentir com entusiásticos aplausos.

É caso para dizer: quem te viu e quem te vê. Agora sim, Manel. Agora sim!

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