Se aos muitos milhares de pessoas que usualmente frequentam a baixa portuense juntarmos uma noite agradável, um evento atractivo a custo zero e mais umas quantas de pessoas que terão ficado por ali depois da manifestação de 15 de Outubro o que se obtém é uma noite que poderia ter sido memorável mas que acabou por ser uma experiência mal sucedida devido ao excesso de público.
Do ponto de vista da
Optimus imagino que esta
D'Bandada tenha sido um sucesso tremendo - todos os espaços esgotados, milhares de pessoas nas ruas com panfletos e diversos acessórios cor-de-laranja - mas as coisas são bem diferentes 'na óptica do utilizador'. As longas filas e a lotação reduzida da maior parte dos espaços tornaram numa tarefa quase impossível assistir aos concertos. A afluência era tal que deve ter havido um número significativo de pessoas que nem a um espectáculo assistiu e mesmo eu apenas consegui acesso a uma das salas - o
Café Ceuta para ver
Minta & the Book Trout e
Márcia.
O facto de o evento ser gratuito não o torna imune a críticas. É por isso acredito que o evento, caso venha a repetir-se, este deverá ser repensado pois nestes moldes é deveras frustrante ir à
D'Bandada. Talvez isto se resolva com mais concertos ao ar livre, cobrando algum valor simbólico ou, tomando a
bodyspace como exemplo, realizando o evento durante a tarde de forma a não haver o encontro entre o 'pessoal da noite e dos copos' com o 'pessoal dos concertos'. Para além disso, esta última sugestão serviria também para dinamizar a baixa num período que não o nocturno uma vez que, durante as noites e especialmente ao fim de semana, ela está sempre ao rubro (com ou sem concertos).
Mas vamos esquecer as partes más por um minuto e vamos às partes boas. Estava um calor infernal no
Café Ceuta quando
Francisca Cortesão, ou
Minta como prefere que lhe chamem no meio artístico, subiu ao pequeno palco. Não o fez sozinha mas também não o fez com a sua companhia habital - os
Book Trouts - fê-lo sim com
Francisco Silva, também conhecido por
Old Jerusalem. O concerto começou com um par em palco mas quando terminou estavam este era ocupado por três pessoas. No último tema
Minta convidou
Márcia - as duas referiram que partilham o palco com frequência - para se juntar a ela e a
Old Jerusalem. Mais tarde
Márcia viria a retribuir a gentileza depois de simpaticamente percorrer alguns dos temas do
sublime EP homónimo (editado precisamente pela
Optimus Discos) e de
Dá (o não-tão-bom-álbum de estreia que irá ser reeditado em breve).
Tanto
Minta como
Márcia apresentaram-se num registo puramente acústico e de grande cumplicidade apesar das difíceis condições do
Café Ceuta. Não deve ser nada fácil dar um concerto acústico e fazer-se ouvir por entre grupos a jantar e a soltar sonoras gargalhadas, funcionários a tirar cafés e a servir bebidas ao balcão e louças diversas que caem ao chão e se estilhaçam em mil pedaços. Ainda assim, apesar da falta de respeito patente nalgumas destas dificuldades, são coisas desse tipo que dão uma textura especial a estes pequenos concertos.
A parte final da festa decorreu no mosteiro de
S. Bento da Vitória animada pelas batidas fortes de
Stereossauro e
DJ Ride num notável contraste entre os ritmos modernos do hip-hop e a envolvência algo mística deste espaço antigo. O único problema aqui resumiu-se novamente a uma palavra - "fila", embora desta vez a situação seja bem mais difícil de compreender. Neste caso as filas não eram para entrar mas sim para consumir. Entre a 1h e as 3h da manhã o bar era aberto pelo que estava bastante concorrido, no entanto não havia gente minimamente suficiente para atender aos pedidos dando origem a novas esperas desesperantes (chegou a uma hora).
Resumindo da forma mais simples possível: a
D'Bandada é sem dúvida uma iniciativa louvável, só é pena que as coisas não tenham realmente corrido da melhor maneira.
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