Friday, September 2, 2011

Festival Paredes de Coura 2011 - Dia 2


O segundo dia do festival trazia consigo um nome extra. Os Trail of Dead - confirmação de última hora - vieram reforçar um dia que por si só já tinha um alinhamento de luxo. É verdade que Kings of Convenience talvez não fossem os cabeças de cartaz ideais para o festival mas tudo correu pelo melhor e viveu-se (mais) uma noite memorável em Coura.

19 AGOSTO'11
O SEGUNDDO DIA


Apesar de várias pessoas me terem prevenido de que ao vivo não eram grande coisa, os Battles eram uma das bandas que mais queria ver neste festival. Digo-o já: não me volto a acreditar nesta gente agoirenta - este foi um concerto e pêras! Penso que quase toda a gente foi apanhada de surpresa com este espectáculo - muitos esperariam sem dúvida que fosse bom mas duvido que alguém esperasse que fosse TÃO bom.

Depois da saída de Tyondai Braxton da banda os Battles pareciam condenados à morte mas os restantes membros do então quarteto (Ian Williams, John Stanier e Dave Konopka) souberam dar a volta por cima. Na falta de um vocalista encheram o seu novo disco de convidados de categoria - a coisa, pode dizer-se, não resultou mal. Outra das coisas que se dizia por aí sobre os concertos dos Battles é que não tocavam músicas to primeiro álbum. Foi então com uma enorme surpresa e entusiasmo que o anfiteatro natural de Paredes de Coura recebeu Atlas - o bizarro e contagiante sucesso de Mirrored (2007). Estava o concerto ganho.

Neste espectáculo, como seria de esperar, os Battles trouxeram Gloss Drop para o palco: Africastle, Futura, Wall Street... todas soaram maravilhosamente no anfiteatro natural de Coura. Ora com a sensualidade latente de Sweet & Shag (com a participação virtual de Kazu Makino que ainda no dia anterior tinha espalhado magia com os Blonde Redhead) ora com os ritmos calientes de Ice Cream (com participação virtual de Matias Aguayo) ou com o toque mais industrial de My Machines (com participação virtual de Gary Numan) os Battles foram certeiros neste concerto. Não tivesse eu visto os Kings of Convenience no Theatro Circo no ano passado e talvez a minha opinião fosse outra mas, nestas condições, arrisco-me a dizer que este trio nova iorquino deu O concerto da segunda noite de festival.

Ainda assim, e tal como no dia anterior, a noite não se resume a um único concerto excelente:
  • O único concerto que fui ver ao Palco 2 foi o dos portugueses You Can't Win, Charlie Brown. Já os tinha debaixo de olho antes do maravilhoso EP homónimo editado pela OptimusDiscos e quando este saiu fiquei verdadeiramente rendido ao seu som. Agora acabaram de lançar o seu primeiro álbum - Chromatic. Ao vivo fiquei ainda mais deliciado com este sexteto talentoso - foi daqueles concertos que, naquele momento, caíram na perfeição. Só é pena que tenha sido tão curto - menos de meia hora não chega a nada. Os You Can't Win, Charlie Brown são para mim um dos melhores projectos nacionais e (espero eu) estão aí para ficar. Espero vê-los novamente em breve.
  • Foi com uma simpatia muito acima da média que The Joy Formidable abriram o palco principal neste dia. O trio de Gales, que em palco destilou energia q.b., prometeu voltar em breve. De certeza que não lhes faltará público.
  • Contratação de última hora, os texanos And you will know us by the Trail of Dead... (ou só Trail of Dead para amigos) prometiam ser um dos grandes concertos do festival - infelizmente não foi isso que aconteceu. O rock progressivo dos Trail of Dead é poderoso mas não teve aquela intensidade que se esperava. Não se pode dizer que tenha sido um mau concerto mas lá que ficou muito aquém das expectativas ficou.
  • Seria difícil a qualquer banda pegar no público depois do incrível concerto dos Battles. Essa hercúlea tarefa coube aos Deerhunter, outra das bandas pela qual mais esperava e que também acabou por me desiludir. Não sei se por dificuldades técnicas ou por opção da banda o som estava, para meu gosto, muito mal calibrado e no meio de tanto ruído e distorção perdeu-se uma das coisas que os Deerhunter têm de melhor - as melodias incríveis. Apesar de tudo foi um concerto que pareceu demasiado curto mas do qual, mesmo assim, apenas retenho o bizarro monólogo de Bradford Cox e os (esses sim) dois últimos temas - Memory Boy e Nothing Ever Happened. Mais uma vez - não foi mau, mas esperava muito melhor.
  • Na merecida (embora discutível) posição de cabeças de cartaz estavam os Kings of Convenience. Este era potencialmente o concerto mais arriscado do festival, não me parece que pudesse haver um meio termo - das duas uma ou o concerto era um tremendo sucesso ou era um fiasco de todo o tamanho. Felizmente a resposta certa é a primeira com o público a receber muito bem as bossas-novas e baladas melancólicas deste duo norueguês. Sim, o concerto é melhor numa sala fechada com um público mais dedicado mas, no anfi-teatro natural de Paredes de Coura e frente a mais de 20.000 pessoas a coisa acabou por resultar muito bem (muito melhor do que esperava). Olhar para trás e ver, colina acima centenas de pequenas chamas (sim, o pessoal usou isqueiros e não telemóveis) a tremeluzir é uma imagem que tão cedo não haverei de apagar da memória. Nem isso nem a já-habitual-mas-nem-por-isso-menos-intensa versão da Corcovado de Jobim.
  • Se a contratação de Kings of Convenience foi a mais arriscada, para mim a de Marina & the Diamonds foi a mais desenquadrada. Aproveitei o concerto que menos me interessava para descansar as pernas e comer qualquer coisa antes de Metronomy que, apesar de não ser uma banda que me fascine particularmente, reunia o entusiasmo de quase todos os meus companheiros de festival. A banda britânica (que parece nunca ter visto um KFC num festival) não me pareceu ter imprimido a energia necessária a este concerto. Achei por isso um concerto algo sem força e sem graça. Foram muitos os que concordaram comigo mas vi também muitos outros a vibrar com o que se passava em palco. "Cada macaco no seu galho", quer-me parecer.
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