20 AGOSTO'11
O TERCEIRO DIA
Em geral o concerto mais esperado deste último dia de festival era o dos Death From Above 1979 - recentemente regressados aos palcos depois de uns anos de paragem. Esta poderosa dupla canadiana nunca foi no entanto uma banda com a qual me identificasse - o concerto que realmente ansiava nessa noite era o dos escoceses Mogwai.
Depois do indie-rock dançável dos Two Door Cinema Club não seria fácil agarrar o público com um post-rock introspectivo mas foi isso mesmo que os Mogwai fizeram. O fosso entre as duas bandas era enorme mas os Mogwai não se intimidaram e demonstraram porque andam há 16 anos a trazer música ao mundo.
A experiência dos escoceses fez-se sentir em pleno naquilo que melhor os caracteriza- aqueles longos crescendos, meticulosamente trabalhados de forma a fazer aumentar a expectativa e que, inevitavelmente, terminam em intensas explosões sonoras. Não me é nada fácil escrever sobre um concerto tão intenso e causador de tantas emoções fortes como este. Aquela apoteose da Mogwai Fear Satan foi capaz de arrepiar qualquer um e não minto quando digo que vi gente ir às lágrimas - não cheguei a tanto mas, que me lembre, nunca uma música mexeu tanto comigo e nem que fosse só por isso guardaria este concerto para sempre na memória.
Apesar de os Mogwai levarem para casa esta taça houve mais bons espectáculos neste último dia de festival.
- Estreados no palco principal de Paredes de Coura em 2007 os Linda Martini regressam 4 anos depois e tocam sensivelmente à mesma hora - na minha opinião o (agora) quarteto já merecia uma posição mais elevada no line-up. O sucesso do segundo álbum cimentou a posição de destaque dos Linda Martini no panorama musical nacional e deu à banda um reforço de confiança. Com tantos temas bons na bagagem começa a ser difícil fazer uma setlist sem deixar de fora algumas grandes músicas. Ainda assim o alinhamento manteve muitos dos temas clássicos (Amor Combate, Este Mar, Dá-me a Tua Melhor Faca) e a estes juntaram-se os 'novos clássicos' de Casa Ocupada como Juventude Sónica, Belarmino VS, Ameaça Menor e claro, para fechar, a poderosa e polémica Cem Metros Sereia. Não podia ter corrido melhor.
- A substituta espanhola dos Foster the People - de nome artístico Maika Makovski - trouxe a Paredes de Coura um rockzito ligeiro com raízes blues.Não foi mau... o que equivale a dizer que também não foi bom. Sem nada de marcante que o distinga este foi um concerto perfeitamente esquecível - talvez o menos memorável de todos os que assisti este ano.
- A banda mais bem recebida do festival foram os Two Door Cinema Club. Transportando consigo um hype algo exagerado a banda fez aquilo que se esperava deles tendo em conta a música que praticam - um indiezinho dançável com agradáveis melodias muito dadas a uma festarola animada sem nunca ambicionar a muito mais do que isso. Ao menos parecem sinceros no que fazem e são competentes, ou seja, cumpriram - não desiludiram mas também não fizeram nada de extraordinário. É a típica banda indie que, entre tantas outras, está de passagem - chegam, fazem a festa, o pessoal gosta, vão-se embora e o pessoal esquece. É de ser assim. Siga, venha a próxima!
- Depois de Mogwai estava a noite feita, por mim podia fazer as malinhas e ir para casa todo contente da vida. Ainda bem que não o fiz pois caso contrário teria perdido o grande concerto dos
Death From Above 1979Orelha Negra. Lá chegaremos, por agora voltamos aos DFA1979 - os cabeças de cartaz. Muitas pessoas se queixavam da falta de sonoridades pesadas no cartaz - os Trail of Dead colmataram um pouco essa falha mas, digamos, este é um 'peso mais cerebrado'. Estavam depositadas então nos Death From Above, as grandes esperanças do rock frenético e suado desta edição de Paredes de Coura. Ali na zona em frente ao palco os ânimos realmente aqueceram - aquilo era pernas e braços por todo o lado - mas não me pareceu que o fogo se tenha propagado colina acima. Ninguém pode acusar a dupla canadiana de falta de empenho, eles realmente debitaram bastante energia mas, na minha opinião algo falhou ali. E não foram só alguns problemas de som nem o facto de os temas soarem todos ao mesmo. Terá sido culpa do exímio concerto dos Mogwai? - Deixando para trás um ou outro espectáculo menos bem conseguido, para fechar, já no after, estava guardada aquela que foi talvez a maior revelação de 2010 e definitivamente uma das maiores festas deste festival - os Orelha Negra. O quinteto maravilha incendiou a tenda do after-hours com os seus ritmos hip-hop carregados de soul, samples e de influências do R&B de outros tempos. Foi num espírito de festa tremendo patrocinado por este estilo quase-mash-up dos Orelha Negra que se terminou em beleza um festival que teve (quase) sempre ao mais alto nível.
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