O quinto filme desta série Ípsilon é Mon Oncle, um clássico de 1958 que é também primeiro filme a cores do cineasta e actor francês Jacques Tati. Como é seu hábito, Tati não se fica pela cadeira de realizador e ocupa o lugar de protagonista desempenhando o caricato Monsieur Hulot, o tio solteiro e algo despassarado do jovem Gerard (e daí o título do filme).
Mon Oncle passa-se numa França de pós-guerra em plena recuperação económica e, portanto, para a classe alta, muito fixada em ostentação de riqueza. Ao longo de
Mon Oncle, Tati caricaturiza essa classe social criando, com pequenos e subtis pormenores uma sátira deliciosamente divertida.
A família
Arpel acaba de se mudar para uma nova casa - arquitectura, mobília e decoração modernos, utensílios topo de gama, jardim impecável e ambiente quase esterilizado.
Monsieur e
Madame Arpel estão obcecados com a sua nova casa e vivem um quotidiano de eficiência e dedicação, respectivamente ao trabalho e à casa enquanto
Gérard, o petiz da família, morre de tédio.
Monsieur Hulot, é 'o tio excêntrico' - uma espécie de bóia de salvação para
Gérard que o leva a passear sempre que pode.
Mon Oncle é como que uma comédia muda. Os diálogos são escassos e, quando os há, as vozes são algo abafadas pelo som ambiente, as expressões, por vezes são algo exageradas e os momentos humorísticos advém de situações caricatas. Os instantes os passados na cozinha quando
M. Hulot apenas procura um copo são um dos muitos que, ao longo do filme, asseguram saudáveis e espontâneas risadas.
Para além do humor simples e subtil, mas ao mesmo tempo fortemente satírico,
Mon Oncle conta com um visual fantástico - a fotografia é um deleite para os olhos. Desde as cenas com o trânsito a fluir até às sequências de
M. Hulot a entrar ou sair de sua casa demonstram uma sensibilidade e preocupação enormes para com o aspecto do produto final fazendo da fotografia um dos pontos altos do filme.
Este foi até agora o filme sobre o qual menos sabia e portanto também não possuía qualquer expectativa ou "pré-conceito". Não tenho dúvidas de que isso acabou por beneficiar a minha opinião mas independentemente disso, Mon Oncle tem um estatudo de clássico e por bons motivos. Mais do que um filme, Jacques Tati criou uma obra de arte.
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