Os concertos de
Paulo Furtado têm sempre o seu quê de imprevisível esteja ele a partilhar o palco com os companheiros dos
Wraygunn ou perfeitamente sozinho como
Legendary Tigerman. A noite de ontem fundiu um pouco estes dois concertos e quem subiu ao palco foi o
Legendary Tigerma, sim senhor, mas num formato
one-man band algo dissimulado no meio de tantos e tão bons convidados.
O reconhecimento mediático atingido com
Femina (o seu último trabalho) permitiu a
Paulo Furtado preparar este concerto especialíssimo. Agarrando esta oportunidade com força o
Homem Tigre fez o que sabe fazer melhor e, muito bem acompanhado, praticamente esgotou os dois Coliseus conquistando o público do Porto (em Lisboa o concerto é mais logo) com um espectáculo único.
Depois de um curto prelúdio a cargo da simpática mas tímida
Rita Braga chega a hora do prato principal da noite.
Paulo Furtado sobe sozinho para o palco munido apenas de uma guitarra e agradece a todos por 'fazerem um homem muito feliz'. Inicía então ao concerto com
My Stomach is the Most Violent of All Italy num dueto virtual (em vídeo) com a (muito) sensual e (muito) provocante
Asia Argento (uma das suas principais cúmplices em
Femina). Daí para a frente o concerto nunca se repetiu e foi um desfilar de convidados alternados com algumas músicas a solo.
Para além das já referidas vozes de
Paulo Furtado e (em gravação) de
Asia Argento, ouviu-se ao longo do concerto a poderosa voz de
Lisa Kekaula (dos
The BellRays), a sussurrada e sedutora voz de
Clauda Efe (dos
Micro Audio Waves) e ainda a doçura de
Rita Redshoes. Mas o rol de convidados não fica por aqui. Nesta noite especial pisaram ainda o palco do Coliseu os
Dead Combo (
Tó Trips e
Pedro Gonçalves),
Jim Diamond (que produziu dois álbuns dos
The White Stripes) e
Mick Collins (membro fundador dos
Gories, uma influência assumida de
Paulo Furtado),
João Doce (percussionista dos
Wraygunn) e também os DJs de
hip-hop Ride e
Nel'Assassin. Para o
encore,
Paulo Furtado guardou mais uma surpresa e chamou para o palco
Sérgio Correia,
Pedro Pinto,
Francisco Correia,
Selma Uamusse,
Raquel Ralha e novamente
João Doce (ou seja, toda a formação dos Wraygunn). Juntos interpretaram
She's a Go Go Dancer e uma música nova que constará do seu próximo disco. Diga-se de passagem que estão em forma e recomendam-se.
A retrospectiva da carreira de
Legendary Tigerman aconteceu mesmo como anunciado - de
Naked Blues (2002) a
Femina (2009) (se bem que, assim de repente, penso que não houve lá nada de
Fuck Christmas, I've Got the Blues). E o mais interessante de tudo é que grande parte das músicas receberam um tratamento especial para celebrar esta noite especial dando origem a um espectáculo verdadeiramente único.
Quantas mais vezes vou poder ver, no mesmo palco
Legendary Tigerman com os
Dead Combo e
Rita Redshoes a interpretar
Lonesome Town (original de
Baker Knight)? E quantas vezes terei a oportunidade de ouvir a
Jockey Full of Bourbon (de
Tom Waits) cantada por
Lisa Kekaula e acompanhada por
Rita Redshoes na bateria? Ou
Honey You're Too Much cantada a meias pelo
Homem Tigre e pela
Claudia Efe, ou o próprio
Legendary Tigerman a acompanhar os
Dead Combo em
Lusitânia Playboys? E aquela versão alongada de
Say Hey Hey com
João Doce na bateria e os DJs
Nel'Assassin e
Ride a rasgar no
scratch e nas
samples Provavelmente são coisas que provavelmente não se irão repetir (tirando talvez no concerto de logo em Lisboa).
A primeira parte do concerto, depois de muitas emoções, terminou em apoteose (com os já referidos
Ride,
Nel'Assassin e
João Doce a acompanhar o protagonista da noite) e o primeiro
encore foi a habitual festa dos
Wraygunn. Apesar destes dois momentos indiscutivelmente altos, foi num clima intimista que
Paulo Furtado optou por encerrar definitivamente o espectáculo. Chegou então ao fim o concerto com
The Legendary Tigerman novamente sozinho em palco a interpretar uma música que diz ser uma das suas favoritas - a arrepiante
True Love Will Find You in the End de
Daniel Johnston (que por coincidência, ou talvez não, é também a faixa de encerramento de
Femina).
O espectáculo de ontem foi quase o que o próprio nome do artista indica - lendário. Estas duas noites ficarão com certeza para a história que nem o próprio
Paulo Furtado nem quem assistiu aos concertos irá esquecer tão cedo.