O Teatro Sá da Bandeira acolheu na passada 6ª feira à noite o
Pop Deluxe. Um novo evento com um formato próximo de um mini-festival no qual actuaram, por esta ordem,
The Invisible,
Piano Magic e
Patrick Watson.
Antes de passar à música propriamente dita deixo apenas uns pequenos apontamentos sobre o evento e a sua organização.
Confesso que a promotora "
two for the road" me era estranha e, depois de comprar os bilhetes até ao dia do espectáculo, fui-me apercebendo o porquê de nunca ter ouvido falar neles. A verdade é que a promoção e divulgação do evento foi francamente má. Não fosse eu fã de
Patrick Watson e o mais certo era nem ter ouvido falar nisto.
Penso que todos sairiam a ganhar se houvesse um pouco mais de brio na promoção feita ao evento. Se, por um lado, compreendo que não devem ter o apoio de uma rádio nacional ou um patrocinador forte como os festivais das cervejeiras, por outro penso que nada justifica que se apresente um
cartaz com este grafismo (cartaz esse que apenas vi disponível na página do Sá da Bandeira. Compreendo pois eu também teria vergonha de afixar isso nas ruas) nem que não haja, em lado nenhum, informação sobre as horas dos concertos (excepto nos bilhetes).
Para além disso, penso que a escolha da data terá sido um erro estratégico visto que nessa mesma noite decorria o
Clubbing da Casa da Música. Relativamente a isto, compreendo que a escolha das datas está também subordinada às agendas dos artistas e portanto vejo-me obrigado a dar um desconto.
Ainda assim, quer se queira quer não, a existência de outros eventos bastante atractivos associado à fraca divulgação terá levado a que a sala do Sá da Bandeira estivesse bastante mais despida do que
Patrick Watson merecia.
Mas atenção que nem tudo é mau e, se critico é porque espero ver novas e melhores edições deste evento!
É bom ver que começam a proliferar eventos deste género fora de Lisboa e devo dizer que a ideia dos bilhetes para duas pessoas foi um incentivo bem-vindo. Isto sem referir que já há muito que procurava uma oportunidade para ver
Patrick Watson, os meus agradecimentos por isso.
Passando ao que realmente interessa:
O trio britânico
The Invisible abriu a noite, contra tudo o que o nome do evento poderia indiciar, num estilo que era uma espécie de rock com cheirinhos de experimentalismo e pitadas de post-rock. Não é difícil encontrar pontos de comparação com bandas como os
Bloc Party,
TV on the Radio ou
Holy Fuck.
As músicas eram estendidas com longos instrumentais até que encadeavam umas nas outras sem um segundo de silêncio. A estreia dos
The Invisible em Portugal foi para mim uma grande e agradável surpresa apesar de, depois de ver o concerto, achar que este pedia um ambiente diferente.
Seguiram-se os
Piano Magic que, contrariamente aos seus antecessores achei completamente entediantes. Apesar de já contarem com um número respeitável de discos editados (praticamente um por ano desde '97) não consegui ver neles nada que justifique o interesse de editora por eles.
O seu som fez-me lembrar o de uns
Editors, mas totalmente desenxabido e sem personalidade. Isto vindo de alguém que não é fã de
Editors (apesar de ter gostado do concerto em
Paredes de Coura 2008) deverá querer dizer alguma coisa.
Penso que posso dizer sem exagerar que já assisti a um número considerável de concertos, mas este foi talvez aquele que menos gostei. Também não estou a exagerar quando digo que quase adormeci durante a actuação.
O momento mais esperado da noite chegou quando Patrick Watson subiu ao palco. Trazendo um novo álbum para apresentar, foi precisamente com um punhado de músicas de Wooden Arms que o concerto começou. Entre simpáticos e genuínos apartes e risadas, Patrick Watson foi interpretando, tema atrás de tema, com aquela sua atitude difícil de explicar mas que lhe é tão natural. Irrequieto e descontraído Patrick Watson fazia com que os olhos do público oscilassem com ele entre o teclado (que tanto deu que falar) e o microfone principal.
Se, com Fireweed e Tracy's Waters, o concerto começou morno, a partir do momento que Patrick Watson anunciou Beijing o espectáculo nunca mais abrandou. Seguiram-se (penso eu) Wooden Arms, Big Bird in a Small Cage e Traveling Salesman e só aí Patrick Watson decidiu revisitar o seu trabalho mais aclamado (e meu favorito) Close to Paradise. O pretexto era The Storm numa versão alongada e com um arranjo decididamente mais 'rockado'.
A esta altura, com certeza, já haveria quem pensasse que o concerto não iria ficar melhor, mas não se podia enganar mais. É sabido que depois da tempestade vem sempre a calmia e Patrick Watson parecia saber isso melhor que todos nós pois logo a seguir presenteou a audiência com uma deliciosamente intimista Man Like You seguida de perto por uma brilhante The Great Escape totalmente às escuras e a solo no teclado.
A boa disposição de Patrick Watson foi uma constante em todo o concerto e nem nestes momentos de grande intimidade ela desapareceu. Perto do início de The Great Escape, ao ouvir um telemóvel a tocar Patrick não resistiu a interromper a música por breves momentos exclamando "Telephone!" para, logo de seguida a reatar no mesmo sítio. Por coincidência a letra da música dizia "Bye bye to all of the noise!" ao que ele acrescenta "How appropriate!" sem quebrar a melodia.
Para o fim ficaram Luscious Life e Where the Wild Things Are, mas o público não se deu por satisfeito manifestou-se para pedir mais.
Sem grandes demoras os artistas regressam ao palco para logo o abandonar de novo e juntando-se à plateia entre as cadeiras. Equipado com uma espécie de (e isto vai soar estranho) mochila com cerca de quatro antenas-megafones-luminosos Watson e os seus músicos interpretaram uma música que não conhecia (penso que se chamava Hearts in the Park) e, por fim e já sem a 'mochila', a muito aguardada Man Under the Sea. O público estava deliciado batendo palmas ao ritmo da música e entoando (inicialmente com alguma timidez) a letra da música. Foi um momento brilhante de interacção músicos-público.
Os músicos regressam ao palco ainda a meio da música e, depois de um instrumental alongado com a voz de Watson a ecoar pela sala, a música chega ao fim e, sob uma chuva de aplausos, os artistas abandonam novamente o palco.
Depois de Man Under the Sea o público estava quase em êxtase, os aplausos foram insistentes e, instantes depois, Patrick Watson e companhia assumem mais uma vez os seus lugares no palco, desta vez para apresentar uma música nova que viria a ser a derradeira da noite.
Resumindo: o Pop Deluxe (que de pop teve muito pouco) trouxe ao palco do Sá da Bandeira uma banda que surpreendeu pela positiva, uma que surpreendeu pela negativa e, se dúvidas havia, a confirmação de Patrick Watson como um dos grandes músicos da actualidade.
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