Abençoados sejam os Orelha Negra e a sua música com a qual eles nos abençoaram a nós.
Antes de falar do concerto propriamente dito tenho de fazer aqui um '
mea culpa'. Apesar de considerar a
Orelha Negra um dos projectos musicais com mais mérito e qualidade no panorama nacional e do seu álbum (homónimo) ser um dos meus favoritos deste ano (não só a nível nacional), ainda não lhes tinha prestado aqui a devida homenagem.
Inicialmente não se sabia quem eram, a sua música falava por eles e, como que para reforçar isso mesmo as suas caras apareciam, ao bom estilo
sleeveface escondidas por trás de algumas influencias deste projecto. Quando as máscaras caíram o mundo descobre que os
Orelha Negra eram uma mescla de talentos de diferentes projectos musicais. Os cinco magníficos eram nem mais nem menos que
Samuel Mira (mais conhecido como
Sam, the Kid),
DJ Cruzfader,
Francisco Rebelo e
João Gomes (ambos dos
Cool Hipnoise) e ainda
Fred (baterista, entre outros, dos
Buraka Som Sistema).
A música da
Orelha Negra, tal como a sua formação é uma espécie de '
melting-pot', ou fusão como será mais correcto dizer em bom português. Tem uma base forte nas batidas do
hip-hop mas vai buscar as suas raízes ao
funk e
soul de outros tempos. Para apimentar um pouco as coisas juntam-se
samples inesperadas tanto de música como de voz. Ao longo do disco ouve-se a voz de
Júlio Isidro,
Fernando Tordo e
Henrique Mendes, há uma participação de
Pac-Man (dos
Da Weasel) e ouvem-se amostras de sucessos de
motown . A mistura de elementos parece improvável, mas a verdade é que resulta tudo muito bem, não só em disco como também ao vivo.
Os
Orelha Negra fizeram uma aposta arrojada mas saiu-lhes o
jackpot. A eles e a nós.
A sala de Café Concerto do
Centro Cultural Vila Flor em Guimarães estava bem composta sem estar a abarrotar o que demonstra um lento despertar do público para este grupo e para estas sonoridades. Os 5€ do bilhete eram convidativos e posso ainda dizer que, para mim, o concerto superou todas as minhas expectativas e valeu aquela notinha azulada até aos últimos cêntimos (e ainda mais alguns).
No palco, nenhum dos 5 elementos se destaca, cada um tem a sua função e juntos complementam-se. O concerto de
Orelha Negra não é um espectáculo visual. Não há uma figura central e por isso também não há um foco de atenções para o público. Em qualquer situação isso poderia causar dificuldades ao espectáculo em si mas a vertente musical é tão forte que a presença de um 'front man' se torna supérflua.
Durante cerca de 1h20 os
Orelha Negra percorreram quase todo do o álbum e ainda tiveram tempo para
Blessed (que serviu de promoção ao disco mas não consta do mesmo) e até para algumas surpresas inesperadas. As músicas do disco, assim como
Blessed, foram muito bem transportadas para o palco mas senti que nas tais 'músicas surpresa' (com as conhecidas '
The Power' dos
Snap!, '
Can't Touch This' do
MC Hammer ou '
Crazy In Love' da
Beyoncé entre outras) a coisa não estava tão consolidada e, sem o concerto ficar fraco (muito longe disso mesmo) a atenção se dispersava um bocado.
Não houve grandes manifestações de exuberância por parte do público mas também não houve muito tempo para isso visto que as músicas engrenavam umas nas outras quase sem pausas, mas bastava olhar à volta para ver sorrisos e cabeças a abanar ao ritmo da música. Foi um concerto incrível de uma banda incrível a provar que muita gente está errada quando diz que em Portugal não se faz boa música.
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